Ao longo do processo evolutivo da humanidade, e
tanto quanto a ciência e a técnica têm avançado, hoje é possível colocar a
pessoa no centro do mundo e, mais do que nunca, o paradigma Antropocêntrico,
(pretendendo aproxima-se do Teocêntrico) é uma evidência que, dificilmente, se
poderá ignorar, mas também é necessário ter-se a humildade de que seria
demasiada arrogância e orgulho o homem querer “endeusar-se”.
Com efeito, o potencial humano está longe de
atingir os objetivos que, então, serão surpreendentes, sendo plausível que se
possa acreditar nas infinitas capacidades da pessoa e, a partir destas, ter-se
a esperança num mundo bem melhor, a todos os níveis: social, económico,
financeiro, laboral, entre outros aspetos, onde pontifiquem os valores cívicos
da dignidade deste ser maravilhoso, ser que é a criatura, verdadeiramente
humana.
No percurso histórico-cultural da humanidade,
parece oportuno destacar as superiores faculdades do ser humano que, segundo o
nível em que se encontra o estado da ciência e da técnica, não se afigura poder
afirmar-se que haverá outros seres, no planeta Terra, que possam superar a
pessoa humana, de resto, o mundo está cada vez mais controlado por este sujeito
incontornável que é a figura humana, pesem, embora e ainda, algumas situações
por resolver.
Continuam por esclarecer fenómenos naturais que
escapam à compreensão e ao controlo humano, porém, muito se sabe e avançou no
conhecimento e resolução de problemas, até há poucos séculos, considerados
insolúveis, designadamente, nos domínios: da medicina, das engenharias e da
natureza do próprio planeta, entre outros avanços científicos já consolidados.
É verdade que no que às ciências exatas e à
tecnologia, muito se tem investigado, que poderá contribuir para a melhoria das
condições de vida de toda a humanidade. Recusar a importância e a
imprescindibilidade das ciências é regredir na evolução do mundo, considerado
este nas suas vertentes positivas, seguramente no domínio dos valores que
caraterizam e diferenciam a espécie humana, por isso, a aposta no investimento
científico e tecnológico é uma primeira grande estratégia, que os responsáveis
dos diversos setores da sociedade têm que ter em atenção.
E se ao nível das ciências exatas o desenvolvimento
tem sido impressionante, principalmente no último século, outro tanto, e com o
mesmo otimismo e certeza, não se pode afirmar em relação às ciências sociais e
humanas, designadamente no que respeita à aplicação de conhecimentos que visem
o respeito pela condição de vida digna das pessoas.
É difícil entender como, apesar de todo o potencial
das pessoas, ainda existem em todo o mundo graves e devastadoras situações, que
reduzem a pessoa humana à condição mais vil e degradante que se possa imaginar:
conflitos, miséria, fome, violências diversas e morte prematura.
Culpabilizar apenas governantes, empresários,
cientistas e técnicos constitui uma alienação das responsabilidades individuais
que a cada pessoa cabem. Em bom rigor, todos, sem exceção, podem e devem dar o
seu contributo válido, para que a soma dos potenciais de cada pessoa se
transforme numa fórmula para um mundo mais racional, justo, afetivo e de paz.
Mesmo as pessoas, que por uma qualquer deficiência
física ou psico-mental, parecem impedidas de participar no projeto universal de
dignificação da sociedade, elas têm um papel importante: chamar a atenção para
quem está na posse das suas faculdades naturais e, desta forma, merecerem o
respeito, a dignidade e o conforto a todos os níveis, de resto, a que
indiscutivelmente têm direito.
A sociedade carece, mais do que nunca, de uma maior
preocupação das ciências sociais e humanas, no sentido em que devem contribuir
para a revolução das consciências, tendo por objetivo a elevação da pessoa
humana à condição máxima da sua superioridade, no que respeita ao bem-estar
comum e também à felicidade, pela segurança, pela certeza do direito, pela
esperança num mundo mais justo, mais atento às dificuldades individuais, mais
respeitador da dignidade da pessoa, porque é necessário: «Combinar exigências, rigor, conciliar conhecimento tradicional com a
ciência, a técnica e os novos produtos e conceitos que estas proporcionam.»
(cf. CUNHA, et al., 2010:30).
O potencial humano tem de ser colocado ao serviço
de todos e não apenas de alguns, ou seja: a inteligência humana não pode servir
para aumentar injustiças, sofrimento e morte miserável de muitos, em favor do
conforto, do domínio e da felicidade de alguns. É possível todos estarem bem,
considerando-se, certamente, os méritos e deméritos de cada pessoa, na medida
em que a responsabilidade de contribuir para o bem-comum é de todos, em função
das respetivas capacidades e determinação em colaborar num projeto que
interessa à humanidade – dignificação da pessoa humana.
É certo que não existem duas pessoas exatamente
iguais; é verdade que muitas pessoas não se preocupam o suficiente com o seu
próprio bem-estar e, por vezes, até demonstram querer levar a vida com o menor
esforço e o maior proveito, portanto, em nada contribuindo para o bem-comum.
Estas não têm qualquer razão para se queixarem da sociedade.
Quem assim se comporta não terá legitimidade para
exigir o mesmo que aqueles que realmente trabalham, estudam, esforçam-se e
economizam, até porque todos têm capacidades inatas e/ou adquiridas, que as
devem colocar ao serviço da comunidade, obviamente, também com benefícios
próprios, porque de contrário cair-se-ia numa outra injustiça, ou seja:
esforçam-se uns para outros que em nada cooperam, nem sequer auxiliam para a
melhoria dos objetivos coletivos.
No mundo difícil em que atualmente se vive, no seio
das sociedades complexas, algo materialistas, consumistas, em alguns casos,
dir-se-ia, perdulárias, cabe aqui, sim, uma intervenção de quem detém alguma
forma de poder: político, religioso, económico, financeiro, empresarial,
laboral, científico, técnico, no sentido de se unirem pelas: educação,
formação, interiorização e boas práticas de valores verdadeiramente humanos, a
fim de se conseguir uma maior equidade.
Os exemplos devem partir de quem possui poder,
colocando a experiência, a sabedoria, a prudência, os valores e os meios
disponíveis ao serviço de projetos que contribuam para uma sociedade
equilibrada, sustentável, com as melhores condições de vida, em todos os
estádios da existência de cada pessoa.
Continuar a desperdiçar o imenso, ou mesmo infinito,
potencial humano para alimentar poderios, estratégias e conseguir resultados da
subjugação de muitos, por uns tantos, é o mesmo que equiparar o ser humano à
mais retrógrada barbárie. Toda a pessoa tem o dever de colaborar para o
bem-comum, é verdade; mas também é justo que lhe assista o direito de
beneficiar do produto da sua colaboração e receber ao longo da vida os
benefícios para os quais contribuiu.
É uma insensibilidade social inaceitável retirar
benefícios a quem lutou e se sacrificou, durante décadas, por eles, na
convicção de que, na velhice, por exemplo, teria alguma estabilidade, conforto,
tranquilidade e felicidade. Colocar o potencial humano, de quem toma decisões
contrárias àqueles objetivos, é o mesmo que se querer equiparar a uma outra
espécie animal qualquer, que não a humana! Por isso se considera que a
sociedade humana tem todos os recursos, desde logo a começar nos seus
constituintes, para ser superior, digna e feliz, em relação a quaisquer outras
conhecidas até este momento.
O potencial humano, em todas as suas vertentes:
científica, técnica, social, política, religiosa, económica, financeira e
axiológica, entre outras, é inigualável e ilimitado, por isso deve ser
orientado para a felicidade humana, individual e coletiva, desde que todos
contribuam com as suas capacidades, porque em boa verdade acredita-se que: «A felicidade não acontece automaticamente,
não é uma graça que um feliz sortilégio possa espalhar sobre nós e que um revês
da fortuna nos possa tirar; depende só de nós. Não nos tornamos felizes numa
noite, mas à custa de um trabalho paciente elaborado dia-a-dia. A felicidade
constrói-se, o que exige trabalho e tempo. Para ser feliz, o próprio indivíduo
precisa saber mudar.» (LUCA & CAWALLI-SFORZA, in RICARD, 2005:9).
Chegou o tempo, a partir da verificação da
existência de situações dramáticas, de se aplicar todo o potencial humano ao
serviço de objetivos altruístas, de dignificação de toda a pessoa humana.
Insistir na utilização das capacidades humanas, na construção de um mundo
bélico, numa sociedade de minorias detentoras de poderes ilimitados, em
domínios de controlo e subjugação das maiorias, continua a revelar-se
desastroso para a humanidade e, ainda que esporadicamente, a verdade é que se
tem assistido ao derrube violento daqueles que, ao longo da vida, humilharam,
exploraram e quiseram controlar, pela força das armas e do poder, aqueles
outros que, mais tarde ou mais cedo, sentiram-se injustiçados e reagiram,
também, pela força.
O potencial humano de uns e de outros tem
resultado, muitas vezes, em mais sofrimento e morte. A pessoa humana acaba por
mostrar que, afinal, em certas circunstâncias, não é inteligente, não usa as
suas capacidades para o bem de todos e, obviamente, para o seu próprio bem, para
a sua felicidade e dos que lhe são queridos. O potencial das pessoas, no
exercício dos diversos papéis que desempenham ao longo da vida, tem sido
utilizado, muitas vezes, para satisfação de interesses individuais e de grupos
restritos, com um egocentrismo perigosamente exacerbado, que apenas conduz ao
desastre social.
A sociedade, através dos seus elementos constituintes,
tem de iniciar um novo caminho, adotar um novo rumo, demonstrar que o elemento
humano tem, de facto, todas as condições para se constituir com dignidade, com
respeito pelos seus semelhantes, com o mais elevado nível de conforto e
bem-estar, erradicando as maiores chagas que a envergonham, como sejam as
desigualdades sociais, as injustiças, as prepotências e arrogâncias de alguns
contra muitos, os atentados aos mais elementares direitos sociais e humanos, adquiridos
pelo trabalho, pelo estudo e pela poupança, por uma cultura de valores que
muitos defendem legitimamente.
Aqui sim, quem tem responsabilidades legislativas,
executivas, fiscalizadoras e judiciais, bem como as de natureza: política,
religiosa, científica, técnica, económica e financeira tem, agora, mais do que
nunca, de colocar os potenciais da inteligência e axiológico, ao serviço do bem
coletivo.
Bibliografia
CUNHA,
Miguel Pina, et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano.
2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
RICARD, Matthieu,
(2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho,
Ldª.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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