Começo por pedir à/ao leitora/r que leia até ao
final, porque a situação difícil que o mundo atravessa, particularmente
Portugal, não se resolve a partir de medidas brutais e iníquas de austeridade,
de cortes nos rendimentos dos mais fracos. Em qualquer parte do mundo, as
dificuldades económicas, financeiras e empresariais vencem-se por investimentos
substanciais e permanentes na Saúde, Educação-Formação, Trabalho e Assistência
Social. Estes são os pilares para o desenvolvimento sustentável.
Coloque-se, num duplo centro, dois elementos
insubstituíveis e privilegiados: professor-formador; aluno/formando, quaisquer
que sejam as situações de um e de outro. Mais complexamente, admitam-se a
inversão e o poder dos intervenientes: hoje, professor; amanhã, aluno; depois,
formador, mais tarde, formando. Os ciclos e alternâncias devem suceder-se ao
longo da vida, deste novo cidadão do mundo, o qual nunca estará numa posição de
dominância definitiva.
É fundamental ter-se presente que: «O desenvolvimento profissional envolve
todas as experiências espontâneas de aprendizagem e as actividades
conscientemente planificadas, realizadas para o benefício directo ou indirecto
do indivíduo, do grupo ou da escola e que contribuem através destes, para a
qualidade da educação na sala de aula. É um processo através do qual os
professores, enquanto agentes de mudança, revêem, renovam, ampliam o seu
compromisso com os propósitos morais do ensino.» (GUEDES & MIRANDA
2005:2).
A aprendizagem significa, também, algum risco de
errância, de aventura e de abertura ao diferente. Implica, ainda, um esforço,
face ao ritmo alucinante da produção científica, que é paradigma do tempo
pós-moderno. É por isso que se exige, como requisito fundamental, o imperativo
da promoção de uma vigorosa cultura de aprendizagem permanente, transformando a
informação em conhecimento útil, funcional, que responda às solicitações da
vida prática quotidiana, alimentando, porém, uma referência obrigatória do
sentido que deve prender a uma bem determinada e, paradoxalmente, realística
dose de utopia humana.
No processo de formação ao longo da vida, que a
todos diz respeito, o professor/formador não é um aprendiz qualquer, na medida
em que lhe cabe liderar, responsavelmente, os processos de aprendizagem e
projetos concebidos por outros seres humanos, seus semelhantes. O estatuto
ético-profissional justifica a disponibilidade e determinação para percorrer um
caminho de formação, quantas vezes solitário e pessoal.
E se um dos objetivos da educação poderá equivaler
a um produto, com o qual é necessário lidar, com competências e planificações,
capazes de levar a resultados previamente conhecidos e calculados, então um
daqueles objetivos da educação é obter um bom produto final, consubstanciado na
pessoa, no cidadão, no profissional: «Educar
vai ser então esse esforço para levar à reflexão sobre a escala de valores que
melhor corresponda às exigências da pessoa humana, visando um aprimoramento não
apenas no pensar, mas especialmente no agir do homem.» (WERNECK 1994:74).
Paralelamente, ser professor, poderá significar:
tomar decisões com capacidade crítica e criativa; ser capaz de utilizar
conhecimentos, experiências e valores, em contexto pedagógico; utilizar
conhecimentos científicos na tomada de resoluções, tal como qualquer outro
profissional autónomo, independentemente de regulamentação oficial, implicando
um comportamento profissional, relacionado com a capacidade de, a partir da sua
formação inicial, desenvolver e ampliar o seu campo de saber, e de desempenhar
as funções sociais, e até políticas, que a sociedade dele espera.
Se se considerar a experiência, como sendo uma das
primeiras fontes da educação, então o professor/formador, em determinada fase
da sua vida profissional, é sujeito do seu próprio desenvolvimento, em que a
reflexão sobre a experiência é uma prática fundamental, isto é, um investigador
na sala de aula, em vez de um técnico, ou seja: ele, o professor/formador, será
um prático reflexivo, porque a teoria por si só, é insuficiente para orientar a
rotina docente.
No sentido de dar corpo ao que se vem defendendo, o
autor destas linhas, ele próprio, se expõe à avaliação pública nacional e à
crítica, através da sua participação num concurso promovido, justamente, pela Administração
do portal “Forma-te”. No âmbito deste concurso nacional: “Formador do Ano-2013”,
promovido pelo referido Portal “Forma-te”, foram selecionados três finalistas,
um dos quais o autor desta reflexão.
Tratou-se de um concurso aberto a todos os formadores
do país, no qual, não só o nosso Concelho, como toda a região norte, foram
representados pelo autor destas meditações, considerando que já foi
selecionado, por um júri idóneo, para um dos três primeiros lugares e,
finalmente, atribuídos três primeiros prémios, “Ex aequo”: Componente Científica; Componente Tecnológica e
Componente Sociocultural.
Refletir sobre as vantagens de um esforço de
autoformação, de um currículo mais espaçoso, onde caibam também a educação e
formação para os valores e o humanismo de alunos e professores, assim como
entender a sala de aula enquanto espaço privilegiado de interação, entre o
vivido e o novo, um cruzamento de vivências, de culturas e de diversidade.
Não se pode ignorar que: «A função da escola inclui um fundamental elemento de socialização: de
recriação dos laços sociais, o que faz com que cada pessoa constitua também uma
comunidade, um povo, uma nação. A tarefa da escola não se esgota na transmissão
de conhecimentos, nem tão-pouco só na educação de valores, mas estas dimensões
estão intimamente ligadas …” (BERGOGLIO, 2013:99).
Bibliografia
BERGOGLIO, Jorge, Papa Francisco, (2013). O
Verdadeiro Poder é Servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de
fé e de renovação social. Tradução de Maria João Vieira /Coord.), Ângelo
Santana, Margarida Mata Pereira. Braga: Publito.
GUEDES, J.
A. D. e Miranda, M. R. (2005). A Capacidade de Auto-aprendizagem do Professor,
no domínio da Formação e Desenvolvimento Profissional dos Professores. (Curso
de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya –
Instituto Superior Politécnico Gaya.
SILVA, E. D. M. (2005) O Professor Reflexivo. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar).
Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.
WERNECK. V. (1994). “Pessoa
e Educação”, in Revista da Universidade Católica de Petrópolis. Petrópolis:
Universidade Católica, Vol. 2 (6) Janeiro-Abril, pp.67-78
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