Devo
começar por dizer que as relações humanas interpessoais, no domínio do diálogo,
são extremamente complexas porque, apesar de se utilizar, por exemplo, o mesmo
código linguístico verbal, este, ainda assim, normalmente, é acompanhado por
uma linguagem não-verbal, muito significativa, que tanto pode confirmar o que
estamos dizendo, como contrariar o nosso discurso, ou seja: a lealdade que tem
subjacente a verdade, pode ser atraiçoada por quaisquer gestos, voluntários ou
não controlados que transmitem, precisamente, o inverso do que se afirma.
As
relações Humanas consideradas no contexto do relacionamento interpessoal
coerente, aqui no domínio do diálogo, dos sentimentos e das emoções, que
caraterizam uma determinada personalidade que, por sua vez, implica um
comportamento relativamente equilibrado, serão possíveis de se exercer com
total lealdade, abertura e transparência perante o interlocutor?
A
lealdade é um valor que exige, por parte de quem a pretende exercer, grande
rigor, uma confiança total no outro, posta a toda a prova nas mais diversas
circunstâncias, a confirmação, ou não, de reciprocidade, por parte de quem, em
quem se confia totalmente, uma certa intimidade no sentido de haver
cumplicidade entre as pessoas que se desejam relacionar com sinceridade,
abertura de espírito, comunhão de princípios, valores, desejos e projetos.
Pode-se
estabelecer um paralelo entre lealdade e assertividade nas relações humanas ao
nível das relações interpessoais e ao refletirmos neste âmbito, então
deparam-se grandes dificuldades, designadamente em certas entidades, em que a
sinceridade dos diálogos verbal e não verbal ficará muito aquém do minimamente
exigível: certo tipo de jogos, negócios, política, concursos, relações de trabalho,
na própria família, ou seja: a lealdade nestes relacionamentos, ao longo da
vida, poderá, de quando em vez, ser seriamente prejudicada.
Costuma-se
dizer que: “O segredo é a alma do negócio”. Tudo indica que sim, porque a
sociedade atual, por razões diversas, algumas alheias à própria vontade das
pessoas, tem vindo a ignorar certos princípios e valores e até sentimentos,
para conseguir atingir objetivos, normalmente materiais, sociais e estatutários
que, pela via da sinceridade, jamais alcançariam.
Hoje,
praticamente, em certas circunstâncias, vale tudo, e neste vale tudo, a
inverdade, a omissão, a hipocrisia, entre outros comportamentos, subsistem,
prejudicando o bom relacionamento que é essencial para boa convivência entre as
pessoas. Enquanto não houver sinceridade no diálogo e coerência entre este e o
pensamento, as relações humanas leais vão ser sempre muito difíceis.
Do
exposto acima, que na minha perspetiva corresponde um pouco ao que se passa na
sociedade, não se pode inferir, porém, que eu não defenda a maior lealdade
possível nas relações humanas e, como orientadora na área da educação, defendo
a verdade como valor essencial na formação das nossas crianças, jovens e
adultos, sim, porque hoje o conceito é o de aprender ao longo da vida, portanto
todos estamos envolvidos na defesa da sinceridade nas nossas relações
interpessoais.
É
essencial termos sempre a noção de que a mentira, e até mesmo a omissão,
normalmente conduzem à desconfiança, ao descrédito, ao conflito que, no seio
das famílias, por exemplo, entre cônjuges, revela-se de consequências
imprevisíveis, como o vexame, a nódoa e o aproveitamento calunioso que acaba
por recair não só no casal, como nos filhos e parentes mais próximos. A
deslealdade no matrimónio, de facto, pode provocar efeitos passionais que, em
certas situações, destroem toda uma vida, um passado de amor e termina com a
morte, quantas vezes violenta, de quem traiu e, não raro, dos cônjuges e
filhos.
Naturalmente
que não há pessoas perfeitas, projetos ideais, objetivos totalmente conseguidos
e, quando assim acontece, várias podem ser as causas, nestas se incluindo,
também e eventualmente, a deslealdade, por exemplo, entre: sócios de uma
empresa; colegas de trabalho; patrões e trabalhadores; estudantes e
professores; concorrentes a um emprego, mas o importante, no meio de tantas
lacunas, que cada pessoa possui, tudo se deve fazer para evitar ao máximo o
recurso à inverdade, à omissão.
Pretendo
com esta reflexão dar um modesto contributo ao novo livro do meu pai, ao qual
ele resolveu dar o título, muito atual e preocupante: “Lealdade nas Relações
Humanas”, e que eu penso ter fortíssimos e verdadeiros fundamentos, porque
conheço muito bem o meu pai e sei que ele não usa a mentira, nem com os seus
adversários, embora já tenha sido vítima da deslealdade, até de pessoas a quem
ele tanto tem apoiado.
A
verdade, como muito bem refere a sabedoria popular, é como o azeite: “vem
sempre à superfície/tona da água”, por isso ela deveria ser permanentemente a
regra, o princípio, o valor intransigente nas nossas relações humanas. A
lealdade arrasta para o consenso, tudo o que há de bom na pessoa
verdadeiramente humana.
A
lealdade nas relações humanas dignifica quem a utiliza, inspira confiança e
adesão aos princípios, valores, sentimentos e emoções, porque tudo é
verdadeiro, tudo é sincero e as pessoas acabam por construir autênticos laços
de amizade, de solidariedade e de gratidão, logo, todo o relacionamento fica
muito mais facilitado.
Liliana Assunção Preto Rodrigues de Bártolo
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone:
00351 936 400 689
Imprensa
Escrita Local:
Jornal:
“Terra e Mar”
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