Atualmente,
em quaisquer contextos da vida das pessoas, um dos pilares essenciais para um
relacionamento interpessoal de sucesso, centra-se na lealdade que é necessária
para colocar, quando se desenvolve uma qualquer conversa, incluindo aqueles
diálogos bem-humorados.
A
sinceridade entre interlocutores ajuda à compreensão e, sempre que necessário,
à tomada de boas decisões, porque a mentira, a ambiguidade e a omissão,
intencionais, para negar, confundir ou esconder, respetivamente, partes
importantes do discurso, normalmente conduzem à desconfiança, ao descrédito e
ao rompimento de relações e, também, quando existe, ao fim da própria amizade.
As
relações humanas sinceras revelam o verdadeiro caráter de quem assim procede.
Faltar à verdade é trair quem em nós acredita e nos ouve, é levar as pessoas a
formular juízos de valor a propósito de quaisquer interesses, situações e
outras pessoas que, assentes na mentira, são errados, injustos, imorais e
eticamente condenáveis.
Por
vezes, há quem afirme que a mentira (a infração) compensa e talvez, em
circunstâncias excecionais, em que se jogam interesses vitais, valha a pena
invocar uma inverdade, todavia, sem nunca prejudicar quaisquer outras pessoas,
interesses, situações, projetos e resultados, quando legais, legítimos e
justos, que visam o bem comum e/ou da própria pessoa.
Faltar
à verdade para salvar a própria vida, ou de algum ente querido, ou de um amigo
especial, sem incriminar outras pessoas, poderá ser, moralmente, aceitável?
Negar um facto para evitar que alguém seja condenado, quando tal episódio não
prejudica ninguém, a não ser a própria pessoa, que até se prova ter sido
involuntário, impensado, sem premeditação de dolo, poderá ser objeto de
castigo? E num teatro de guerra, ou similar, mentir quanto à nacionalidade,
religião e quaisquer convicções políticas, filosóficas ou outras, para salvar a
vida e o bem-estar daqueles que dependem de nós, constituirá mentira, assim tão
gravosa? E, finalmente, num simples jogo, afirmar-se que se possuem
determinados elementos, (cartas importantes, estratégias e táticas, por
exemplo) para levar o adversário, a cometer erros, e nós ganharmos a partida,
tal mentira será condenável?
Na
verdade, tudo indica que é necessário avaliar muito bem até onde vai a mentira
e começa a lealdade, ou vice-versa, nas relações humanas, ou se em
circunstância alguma, a relação entre duas pessoas, que se respeitam, que se
gostam, a inverdade, a desconfiança, a deslealdade têm justificação. Nestas
circunstâncias a mentira jamais poderá ser utilizada, mesmo quando se diz
“piedosa”, como por exemplo no caso de uma doença grave. Aqui, é preferível
animar a pessoa nossa amiga, dar-lhe coragem e tudo fazer para que ela se sinta
confortada e continue a acreditar na nossa total amizade, que mesmo nos piores
momentos da vida estamos ao lado dela com verdade, com lealdade.
Mas
em alguns dos exemplos anteriormente mencionados, será possível, ainda assim,
evitar ou substituir a mentira pela omissão? Provavelmente sim, porque a omissão,
em última análise, revela-se como uma falha, eventualmente, o incumprimento de
um dever, no fundo poderá corresponder a não expor uma verdade (enquanto que a
mentira é, no mínimo, deturpar a verdade).
A
omissão leva a não se dizer tudo quanto se sabe sobre um determinado assunto,
às vezes até para salvar uma relação pessoal. Será como uma espécie de mensagem
telegráfica: objetiva e, simultaneamente, evasiva quanto a pormenores,
responde-se, exclusivamente, ao que nos é perguntado, sem se entrar em detalhes,
porque de contrário, novas questões surgem, novas particularidades são pedidas
e, poder-se-á chegar a determinada situação em que das duas uma: ou se diz toda
a verdade, que até não convém; ou se entra pela mentira que, igualmente, virá a
ser prejudicial na maior parte das situações de vida. A opção é difícil e cada
pessoa é aquilo que as circunstâncias lhe pedem.
Excluídas,
portanto, situações-limite, praticamente de vida ou de morte, determinados
tipos de jogos, não esquecer que o negócio, por vezes, também é um jogo,
todavia, depois de fechado, não será correto reabri-lo com argumentos falsos e
diversas conjunturas onde a omissão é utilizada, nada justificando a mentira e,
como diz a sabedoria popular: “A mentira
tem a perna curta” ou seja: mais tarde ou mais cedo, ela é descoberta como
tal.
Infelizmente,
nos tempos conturbados que as sociedades modernas atravessam, com uma flagrante
e confrangedora ausência, ou esquecimento, de valores que honram a superior
dignidade humana, pode-se afirmar que a ideia, segundo a qual, é necessário
cada pessoa colocar as máscaras dos diversos interesses, recorrendo a
comportamentos, mais ou menos forçados e/ou intencionais, como a bajulação, o
cinismo, a falsidade, as palmadinhas, a hipocrisia, os sorrisos permanentemente
“rasgados”, ao uso e abuso da verbosidade contrária ao pensamento coerente e
verdadeiro, ao deixar cair um amigo quando já não serve, para agradar a outro e
assim alcançar objetivos e interesses próprios, tudo isto se revela com
preocupante frequência.
Hoje,
praticamente, não se fecham negócios com um simples e vigoroso aperto de mão;
hoje, nem o documento escrito é respeitado quando outros interesses, por vezes
mesquinhos, se levantam; hoje, o que juramos sob palavra de honra, pela própria
saúde e até dos entes mais queridos, pela felicidade, por Deus, amanhã poderá
ser negado, na medida em que se ontem havia uma verdade, rapidamente ela poderá
ser substituída pela mais descarada e abjecta mentira.
O
comportamento humano nestes novos tempos, assumido por muito “boa gente” parece
cada vez mais volátil, é o rumo que, para certas pessoas, parece produzir os
melhores resultados. Então a mentira utilizada neste tipo de “navegação à
vista”, de vidas efémeras, certamente que conduzirá à desconfiança, às desavenças,
ao conflito cego e fatal, enfim, ao “naufrágio”.
Nas
relações humanas entre pessoas que se respeitam, que se cuidam (e quem cuida,
gosta, ama, está sempre ao lado) a mentira, quando descoberta, por quem é
vítima dela, dói profundamente, magoa indelevelmente, provoca um sofrimento
atroz, para o resto da vida, de quem se sente covardemente atraiçoado e sabe
que não merece ser alvo de tão pérfidos comportamentos.
Nas
nossas relações humanas diárias, em quaisquer contextos civilizados e
humanamente credíveis, deve-se utilizar sempre a verdade, com abertura de
espírito, para melhor podermos dialogar com lealdade e, por que não, com
amizade? A, verdade, normalmente, é sempre a mesma, não tem alternativa, deve
ser utilizada por quem se quer bem, por quem revela consideração e estima por
outra pessoa, por quem deseja viver em harmonia consigo e com os seus
semelhantes, com felicidade.
Claro
que se excetuam aqui certas “verdades” científicas e outras de idêntica
natureza, incluindo judiciais, porque através da investigação, mais tarde,
pode-se chegar a outras verdades que destronam as anteriores: lembremo-nos do
conflito entre a Igreja e Galileu Galilei com a
teoria heliocêntrica. Evidentemente que seremos leais nas nossas relações,
quando não somos detentores de outros conhecimentos e sinceramente afirmamos o
que de facto sabemos e temos consciência de que não existe nada mais para além
do que está na nossa posse.
A
lealdade nas relações humanas, a partilha de alegrias e tristezas, sucessos e
fracassos, desejos e projetos, é um valor que cimenta a amizade para toda a
vida, que abre um “cantinho no coração”, para nele acolhermos quem nos fala
verdade, só que às vezes deixamo-nos iludir, corromper por quem nos quer
impressionar com uma qualquer aparência, ou posições sociais elevadas, por
“lobos vestidos de cordeiros” e somos levados a rejeitar quem sempre nos falou
verdade, porque esta lealdade nas relações humanas, para muita gente, é bem
difícil, nada conveniente e, por isso mesmo, desvalorizada, ridicularizada,
nomeadamente por quem tem objetivos de uma qualquer conquista.
Ermezinda da Assunção Preto de Bártolo
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
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