Quarenta e seis anos ininterruptos de matrimónio já
corresponde, praticamente, a mais de meia existência de uma pessoa,
considerando, atualmente, que a “esperança de vida” se aproxima dos noventa
anos para uma população idosa, felizmente, em crescendo, muito embora se
reconheça que a percentagem de pessoas que atingem os noventa e dois anos,
ainda não é muito elevada, mas também, e segundo as estatísticas oficiais, cada
vez há mais pessoas com uma vida longa e já com alguma qualidade.
Esta idade matrimonial, a
que corresponde, ao que em boa tradição se convencionou designar por “Bodas de Alabastro”, é um marco
indelével na vida matrimonial de todos os casais, considerando que, nestes
tempos pós-modernos, alcançar uma tal duração de relacionamento diário, com:
amor, felicidade, afabilidade, carinho e respeito, revela bem a solidez de um
sentimento tão nobre, quanto necessário no seio de uma família formal ou
informal.
Ao longo de uma vida
matrimonial, várias são as comemorações para cada ano de vida conjugal,
contudo, existem alguns anos que são, tradicionalmente, mais marcantes e
festejados. Refiro-me, por exemplo, às: “Bodas de Prata”, vinte e cinco anos de
matrimónio; “Bodas de Ouro”, cinquenta anos nupciais; “Bodas de Diamante”,
setenta e cinco anos, de consórcio e, finalmente, para quem tiver a felicidade
de lá chegar, o que por enquanto não se tem conhecimento de que tenha
acontecido com alguém, as “Bodas de Jequitibá”, correspondente a cem anos de
vida conjugal.
Neste ano de 2017, tenho
a felicidade de celebrar com a minha esposa, filhas, genros e netos, as nossas
“Bodas de Alabastro”, que corresponde
a 46 anos de vida a dois e cujo significado, entre muitos outros, certamente,
se poderá aceitar: «Escolhido como símbolo dos 46
anos de vida a dois, o alabastro é uma espécie de mármore branco, translúcido e
suscetível ao polimento. Mineral ou rocha calcária pouco dura, de granulação
fina e translúcida, e de cor branca. É um mineral branco, usado desde a
antiguidade na Grécia, esculpido em forma de pequenos vasos para queimar
perfumes e incensos; tem a aparência de mármore, mas é translúcido, com fibras.
Significa prosperidade e fartura. Antigamente quanto mais abastada a família,
maior o vaso de alabastro, significa então prosperidade e fartura no casamento.
Frascos feitos de genuíno alabastro eram usados para os unguentos e perfumes
mais caros, como aqueles com os quais Jesus foi ungido em duas ocasiões. Sugestões de presentes: frascos
com perfumes, vasos.» (in: http://dalvaday.blogspot.pt/2014/08/2014-significado-de-bodas-de
casamento_10.html em 11.08.2017).
Naturalmente que não pretendo
fazer aqui a apologia de uma existência conjugal perfeita, porque acredito que
ela não existe em absoluto, de resto, sempre se verificam diferenças nos dois
cônjuges, desde: princípios, valores, sentimentos, emoções, a que se juntam,
por vezes, estatutos diferentes, aos níveis sociais, profissionais e ainda as
respetivas origens genealógicas.
É minha convicção que em qualquer
casal, independentemente da sua constituição, sempre haverá: com maior ou menor
frequência; com mais ou menos intensidade; com argumentos mais poderosos de um
das partes, alguns momentos na vida em que a harmonia dos cônjuges se
desestabiliza, por mais ou menos tempo, todavia isso é normal, e até será
salutar, na medida em que ajuda a clarificar posições, atitudes, pensamentos,
contribuindo, afinal, para, em determinadas circunstâncias, minimizar uma ou
outra consequência, menos agradável
É sabido que a “Filosofia
Popular”, por vezes invoca situações e frases tão assertivas que não necessitam
de contra-argumentos, como por exemplo: “Casa
onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. O pão, aqui, até poderá
ter um significado meramente modelar, porque em boa verdade, ao longo da
existência, muitas são as ocorrências na vida familiar, que provocam discussões,
mais ou menos acaloradas e, no limite, até conduzem à violência doméstica.
Na comemoração das nossas “Bodas de Alabastro”, não pretendemos
negar que, durante estas mais de quatro décadas e meia, a vida nem sempre foi
fácil, todavia, tem havido um cuidado extremo em ultrapassar divergências, em
encontrar as melhores soluções, em passar para as filhas, genros e netos as
dificuldades, mas também as estratégias para as superar, por isso, os
“conflitos” conjugais são bastante atenuados, uma ou outra vez, impercetíveis,
contribuindo para a solidez e estabilidade da família.
Quarenta e seis anos de vida em
comum, num ambiente de total cumplicidade, com imenso amor, respeito e
entreajuda, revela bem que é exequível alcançar uma certa e relativa
felicidade, já que, é impraticável medir este valor, tão desejado quanto procurado,
mas considera-se que, a vida a dois, pode proporcionar o caminho adequado para
se alcançar aquele desiderato.
Há sessenta, cinquenta e quarenta
anos, pelo menos, a sociedade não nos oferecia as condições que hoje nos
proporciona: seja na área da saúde, no domínio da educação, no âmbito das
tecnologias, no contexto sociocultural e ainda noutras dimensões da existência
humana.
Muitas pessoas trabalhavam: de
“sol-a-sol”, nos campos, na pesca, na construção e noutros setores igualmente
rudes; adoecia-se e falecia-se muitas vezes sem a possibilidade de um
tratamento eficaz, e sem se saber o nome e origem da doença; as famílias eram
extensas e, em muitas delas, os meios de subsistência eram escassos, portanto
passava-se mal, ao nível da alimentação, do vestuário, da educação e da
formação.
Tempos difíceis que, muito embora
houvesse bastante trabalho, principalmente: na construção civil, na pesca, na
agricultura, nas minas, os salários eram insuficientes, praticamente, uma
miséria, poucas pessoas tinham descontos para a Segurança Social e isso viria a
refletir-se mais tarde na reforma, que hoje sabemos haver uma grande parte de
aposentações exíguas.
Por outro lado, a partir de
meados da década de cinquenta, do século passado, os preparativos para as
guerras colonias estavam em curso, porque os povos subjugados por Portugal
queriam, e tinham o direito à sua independência, portanto, a partir do início
de sessenta, o destino da esmagadora maioria dos jovens era a mobilização para
combater nas então colónias, onde durante cerca de treze anos milhares perderam
a vida, ficaram inválidos e impossibilitados de uma existência normal, para os
que conseguiram regressar.
A alternativa a quem: não
pretendia viver praticamente na miséria em Portugal; nem ir combater para as
ex-colónias, era a emigração para diversos países europeus, à cabeça dos quais
estava a França, Luxemburgo, Alemanha, Suíça, Venezuela, Brasil, entre outros.
Hoje há uma comunidade portuguesa e de luso-descendentes de mais de cinco
milhões de pessoas, com vidas confortáveis e estabilizadas.
Hoje, agosto de 2017, é
necessário fazer uma referência à triste e deplorável situação que se verifica
na Venezuela, onde centenas de milhares de Portugueses e luso-descendentes,
estão a “fugir” para Portugal, deixando naquele país, tudo quanto ao longo de
décadas conseguiram, através do trabalho competente, honesto e de grandes
poupanças.
No decorrer deste percurso:
primeiro, a dois; depois, a três; finalmente, a quatro, ou seja, o casal com
duas filhas. Mas que felicidade Deus nos concedeu. De seguida vieram os genros
e os netos, e que nestes vamos reforçando a nossa projeção, porque se numa
primeira fase, com as filhas, nelas nos queremos rever, com os netos, já
vislumbramos o prolongamento das nossas raízes mais fundas e fortalecidas.
Naturalmente que ainda é muito
cedo para se abordar a data que muitos casais desejam: as “Bodas de Ouro”, ou
também as “Bodas de Brilhante” como alguns preferem, todavia, independentemente
dos nomes, o importante é: celebrarmos, de momento, esta data de “Alabastro”,
com grande amor, que se deseja cada vez mais consolidado, se tal ainda for
necessário e possível; comemorar, em Ação de Graças, este privilégio Divino, de
nos mantermos unidos, amados e com projetos para alimentar este amor, que nos
acompanha há mais de quarenta e seis anos.
Tal como já foi afirmado, noutro
contexto: «A Felicidade dá muito trabalho
…, mas vale a pena» (BÁRTOLO, 2017: capa). Claro que não é fácil harmonizar
um conjunto muito vasto de diferenças: primeiro, entre os cônjuges, até pelo
facto de, na circunstância, existir uma mulher e um homem, cujas sensibilidades
são diferentes e, igualmente, as personalidades também não são idênticas;
depois, entre todos os elementos da família nuclear. Vale o amor, o respeito, a
persistência.
Bibliografia
BARTOLO, Diamantino Lourenço
Rodrigues de, (2017). Em Busca da Felicidade, 1ª Edição, Lisboa: Chiado
Editora.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Jornal: “Terra e Mar”
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