sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Bodas de Alabastro


Quarenta e seis anos ininterruptos de matrimónio já corresponde, praticamente, a mais de meia existência de uma pessoa, considerando, atualmente, que a “esperança de vida” se aproxima dos noventa anos para uma população idosa, felizmente, em crescendo, muito embora se reconheça que a percentagem de pessoas que atingem os noventa e dois anos, ainda não é muito elevada, mas também, e segundo as estatísticas oficiais, cada vez há mais pessoas com uma vida longa e já com alguma qualidade.
Esta idade matrimonial, a que corresponde, ao que em boa tradição se convencionou designar por “Bodas de Alabastro”, é um marco indelével na vida matrimonial de todos os casais, considerando que, nestes tempos pós-modernos, alcançar uma tal duração de relacionamento diário, com: amor, felicidade, afabilidade, carinho e respeito, revela bem a solidez de um sentimento tão nobre, quanto necessário no seio de uma família formal ou informal.
Ao longo de uma vida matrimonial, várias são as comemorações para cada ano de vida conjugal, contudo, existem alguns anos que são, tradicionalmente, mais marcantes e festejados. Refiro-me, por exemplo, às: “Bodas de Prata”, vinte e cinco anos de matrimónio; “Bodas de Ouro”, cinquenta anos nupciais; “Bodas de Diamante”, setenta e cinco anos, de consórcio e, finalmente, para quem tiver a felicidade de lá chegar, o que por enquanto não se tem conhecimento de que tenha acontecido com alguém, as “Bodas de Jequitibá”, correspondente a cem anos de vida conjugal.
Neste ano de 2017, tenho a felicidade de celebrar com a minha esposa, filhas, genros e netos, as nossas “Bodas de Alabastro”, que corresponde a 46 anos de vida a dois e cujo significado, entre muitos outros, certamente, se poderá aceitar: «Escolhido como símbolo dos 46 anos de vida a dois, o alabastro é uma espécie de mármore branco, translúcido e suscetível ao polimento. Mineral ou rocha calcária pouco dura, de granulação fina e translúcida, e de cor branca. É um mineral branco, usado desde a antiguidade na Grécia, esculpido em forma de pequenos vasos para queimar perfumes e incensos; tem a aparência de mármore, mas é translúcido, com fibras. Significa prosperidade e fartura. Antigamente quanto mais abastada a família, maior o vaso de alabastro, significa então prosperidade e fartura no casamento. Frascos feitos de genuíno alabastro eram usados para os unguentos e perfumes mais caros, como aqueles com os quais Jesus foi ungido em duas ocasiões. Sugestões de presentes: frascos com perfumes, vasos.» (in: http://dalvaday.blogspot.pt/2014/08/2014-significado-de-bodas-de casamento_10.html em 11.08.2017).
Naturalmente que não pretendo fazer aqui a apologia de uma existência conjugal perfeita, porque acredito que ela não existe em absoluto, de resto, sempre se verificam diferenças nos dois cônjuges, desde: princípios, valores, sentimentos, emoções, a que se juntam, por vezes, estatutos diferentes, aos níveis sociais, profissionais e ainda as respetivas origens genealógicas.
É minha convicção que em qualquer casal, independentemente da sua constituição, sempre haverá: com maior ou menor frequência; com mais ou menos intensidade; com argumentos mais poderosos de um das partes, alguns momentos na vida em que a harmonia dos cônjuges se desestabiliza, por mais ou menos tempo, todavia isso é normal, e até será salutar, na medida em que ajuda a clarificar posições, atitudes, pensamentos, contribuindo, afinal, para, em determinadas circunstâncias, minimizar uma ou outra consequência, menos agradável
É sabido que a “Filosofia Popular”, por vezes invoca situações e frases tão assertivas que não necessitam de contra-argumentos, como por exemplo: “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. O pão, aqui, até poderá ter um significado meramente modelar, porque em boa verdade, ao longo da existência, muitas são as ocorrências na vida familiar, que provocam discussões, mais ou menos acaloradas e, no limite, até conduzem à violência doméstica.
Na comemoração das nossas “Bodas de Alabastro”, não pretendemos negar que, durante estas mais de quatro décadas e meia, a vida nem sempre foi fácil, todavia, tem havido um cuidado extremo em ultrapassar divergências, em encontrar as melhores soluções, em passar para as filhas, genros e netos as dificuldades, mas também as estratégias para as superar, por isso, os “conflitos” conjugais são bastante atenuados, uma ou outra vez, impercetíveis, contribuindo para a solidez e estabilidade da família.
Quarenta e seis anos de vida em comum, num ambiente de total cumplicidade, com imenso amor, respeito e entreajuda, revela bem que é exequível alcançar uma certa e relativa felicidade, já que, é impraticável medir este valor, tão desejado quanto procurado, mas considera-se que, a vida a dois, pode proporcionar o caminho adequado para se alcançar aquele desiderato.
Há sessenta, cinquenta e quarenta anos, pelo menos, a sociedade não nos oferecia as condições que hoje nos proporciona: seja na área da saúde, no domínio da educação, no âmbito das tecnologias, no contexto sociocultural e ainda noutras dimensões da existência humana.
Muitas pessoas trabalhavam: de “sol-a-sol”, nos campos, na pesca, na construção e noutros setores igualmente rudes; adoecia-se e falecia-se muitas vezes sem a possibilidade de um tratamento eficaz, e sem se saber o nome e origem da doença; as famílias eram extensas e, em muitas delas, os meios de subsistência eram escassos, portanto passava-se mal, ao nível da alimentação, do vestuário, da educação e da formação.
Tempos difíceis que, muito embora houvesse bastante trabalho, principalmente: na construção civil, na pesca, na agricultura, nas minas, os salários eram insuficientes, praticamente, uma miséria, poucas pessoas tinham descontos para a Segurança Social e isso viria a refletir-se mais tarde na reforma, que hoje sabemos haver uma grande parte de aposentações exíguas.
Por outro lado, a partir de meados da década de cinquenta, do século passado, os preparativos para as guerras colonias estavam em curso, porque os povos subjugados por Portugal queriam, e tinham o direito à sua independência, portanto, a partir do início de sessenta, o destino da esmagadora maioria dos jovens era a mobilização para combater nas então colónias, onde durante cerca de treze anos milhares perderam a vida, ficaram inválidos e impossibilitados de uma existência normal, para os que conseguiram regressar.
A alternativa a quem: não pretendia viver praticamente na miséria em Portugal; nem ir combater para as ex-colónias, era a emigração para diversos países europeus, à cabeça dos quais estava a França, Luxemburgo, Alemanha, Suíça, Venezuela, Brasil, entre outros. Hoje há uma comunidade portuguesa e de luso-descendentes de mais de cinco milhões de pessoas, com vidas confortáveis e estabilizadas.
Hoje, agosto de 2017, é necessário fazer uma referência à triste e deplorável situação que se verifica na Venezuela, onde centenas de milhares de Portugueses e luso-descendentes, estão a “fugir” para Portugal, deixando naquele país, tudo quanto ao longo de décadas conseguiram, através do trabalho competente, honesto e de grandes poupanças.
No decorrer deste percurso: primeiro, a dois; depois, a três; finalmente, a quatro, ou seja, o casal com duas filhas. Mas que felicidade Deus nos concedeu. De seguida vieram os genros e os netos, e que nestes vamos reforçando a nossa projeção, porque se numa primeira fase, com as filhas, nelas nos queremos rever, com os netos, já vislumbramos o prolongamento das nossas raízes mais fundas e fortalecidas.
Naturalmente que ainda é muito cedo para se abordar a data que muitos casais desejam: as “Bodas de Ouro”, ou também as “Bodas de Brilhante” como alguns preferem, todavia, independentemente dos nomes, o importante é: celebrarmos, de momento, esta data de “Alabastro”, com grande amor, que se deseja cada vez mais consolidado, se tal ainda for necessário e possível; comemorar, em Ação de Graças, este privilégio Divino, de nos mantermos unidos, amados e com projetos para alimentar este amor, que nos acompanha há mais de quarenta e seis anos.
Tal como já foi afirmado, noutro contexto: «A Felicidade dá muito trabalho …, mas vale a pena» (BÁRTOLO, 2017: capa). Claro que não é fácil harmonizar um conjunto muito vasto de diferenças: primeiro, entre os cônjuges, até pelo facto de, na circunstância, existir uma mulher e um homem, cujas sensibilidades são diferentes e, igualmente, as personalidades também não são idênticas; depois, entre todos os elementos da família nuclear. Vale o amor, o respeito, a persistência.

Bibliografia

BARTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2017). Em Busca da Felicidade, 1ª Edição, Lisboa: Chiado Editora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)



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