Temos
visto, quão complexa é a Filosofia, face a outras áreas disciplinares,
nomeadamente, se compararmos com as ciências exatas. De facto, a “máquina
humana” é, ainda hoje, um labirinto de incógnitas, pese, embora, o esforço das
várias ciências humanas, cada uma com o (s) seu (s) objeto (s) de estudo,
metodologias e estratégias, mas, à Filosofia, contudo, não é fácil determinar
tal objeto, pelas seguintes causas:
«a) O seu objecto especial nas actividades humanas,
entre as que são resultado tanto da arte como das da ciência, ou se se prefere,
entre as artes e as ciências; b) A sua própria evolução histórica que a levou,
e ainda continua a levar, algumas vezes a procurar a sua definição eliminando
quanto não é ela, evolução que provoca periodicamente uma crise (real ou
artificial, segundo o mal do tempo) da sua consciência autónoma; c) Uma
discussão que já vem de longo tempo entre os filósofos no seu conjunto, e os
especialistas das regras da acção humana, quer estes sejam filósofos ou não,
mas em nome da moral (religiosa ou não) da política, ou de qualquer Teoria do
Comportamento.» (LEGRAND, 1983:176).
Por
tudo o que fica analisado, não será difícil aceitar que o filósofo, ao
contrário de outros intervenientes no processo humano, tem, e terá sempre, o
seu trabalho dificultado e inacabado. Tradicionalmente, aliamos à noção de
ciência, o conceito de conhecimento e, nesta perspectiva, analisamos, também,
as diversas maneiras de compreender o mundo destacando-se aqui os níveis
clássicos: conhecimento espontâneo ou senso comum, e o conhecimento científico,
entendendo-se que este é uma vitória recente da humanidade, tendo surgido no
século XVII, com as Revoluções Copernicana e Galeliana.
Se é
certo que: no pensamento grego, a Filosofia e a ciência integravam uma única
árvore do saber; igualmente é verdade que já na idade Moderna, a separação
também se consumaria, buscando cada uma delas - Filosofia e Ciência - o seu
percurso concreto, o seu método, o seu objeto, aliás, a ciência moderna surge
ao determinar um objetivo específico de investigação, e ao adotar um método,
através do qual se controlará o conhecimento.
O
recurso a métodos rigorosos, possibilita que a ciência atinja um tipo de
conhecimento sistemático, metodológico, preciso, objetivo e reversível, pelo
qual se descobrem relações universais e necessárias entre os fenómenos,
permitindo prever acontecimentos, e atuar da forma mais eficaz.
A ciência tem um caráter geral, na medida em que as
suas conclusões não valem, exclusivamente, para os casos observados, mas sim
para todos os que se assemelham, daí que a grande preocupação do cientista,
resida na descoberta da regularidade, de tal forma que um determinado fenómeno,
depois de observado, possa resultar num enunciado, que será generalizado: uma
lei científica.
A realidade, ou o mundo construído pela ciência,
postula a objetividade, isto é, as conclusões podem ser verificadas por
qualquer outro membro competente da comunidade científica. E se por um lado,
está estabelecido que para ser objetiva, a ciência dispõe de uma linguagem
rigorosa, de tal forma que os conceitos são definidos de maneira a evitar
ambiguidades, insuficiências ou ambivalências, todavia; por outro lado, não
estamos em condições de podermos afirmar que ela, a ciência, é a única
explicação da realidade e que, portanto, se trata de um conhecimento
absolutamente certo e infalível.
A tudo o que já foi referido acresce que: os
paradigmas sucedem-se, destroem-se; as teorias, por vezes, são contraditórias
e, se nos debruçarmos sobre as ciências humanas, então a dificuldade é ainda
maior, porquanto a sua componente qualitativa, não pode ser reduzida à mera
quantidade, para além de resistir a certas técnicas de experimentação; neste
contexto, quando se aborda a sistemática dos Direitos Humanos, enquadrados nas
Ciências Sociais e Humanas, naturalmente que a Filosofia não pode ficar de
fora.
Ao delinear, idealmente, este trabalho, impus-me, a
mim próprio, um determinado percurso, em obediência a uma das questões
especiais, no âmbito da Gnoseologia e da Ontologia, naturalmente numa postura
em ordem a obter determinado resultado, precisamente, através do Ser
inigualável que é o homem, a pessoa humana, e o acervo de conhecimentos que o
caracteriza, ou seja, a Filosofia, a Política, a Religião, a Educação, a
Formação, a Ciência e os Direitos Humanos, não me sendo possível, aqui e agora,
analisar outras vertentes, eminentemente humanas, tais como o Trabalho, a
Cultura e, mesmo ao nível da Ciência, preferirei as Ciências Humanas e Sociais,
tema que procurarei desenvolver um pouco mais.
A apreciação dos factos humanos, começou a suscitar
a curiosidade dos cientistas da natureza, no século XIX, exigindo-se, então, a
autonomização das Ciências Humanas, em relação ao pensamento filosófico,
contudo, o estatuto da cientificidade que pretendem, vai ser-lhes muito
difícil: não por força da oposição positivista; também por via dos métodos
utilizados nas Ciências da Natureza; como ainda, naturalmente, porque pretendem
um método distinto de todos os outros; e, por fim, considerando a especificidade
do seu objeto de estudo: fenómenos humanos muito complexos.
Várias são hoje as ciências humanas e Sociais, das
quais, e numa perspectiva histórico-sincrónica, referirei:
1)
A Economia,
que desde uma definição mercantilista, relações de troca entre indivíduos e
países (séc. XVII); passando depois para um sistema económico em termos
matemáticos, aplicada ao crescimento da população, numa fase seguinte (séc.
XVIII); até se tornar mais rigorosa, com a precisão introduzida nos seus
conceitos, e por se ter em conta a explicação científica do conjunto de
fenómenos humanos económicos (séc. XIX); para, nos tempos correntes, se tornar
uma ferramenta vital, no desenvolvimento das sociedades, ao nível de vida das
populações (séc. XX). Atualmente, já nesse século XXI, a economia está
endeusada, e faz-se girar tudo à sua volta, como se não houvesse mais vida para
além dela, tornando-se os governos, empresas e indivíduos, seus escravos;
2)
A Sociologia,
é uma outra ciência humana, muito recente (séc., XIX), e que na perspectiva “comtiana”, é um conhecimento positivo,
porquanto procura analisar os factos sociais, as instituições, costumes e
crenças coletivas. Os factos sociais, na ótica “durkheimiana” são coisas, e como tal, suscetíveis de objetivar,
contudo, devido às dificuldades de experimentação, recorre ao método
estatístico;
3)
A Psicologia,
é a ciência que mais direta e intimamente estuda o ser humano, que mais
frequentemente se preocupa com a natureza do espírito humano, daí que ao
falarmos em ciências humanas, a Psicologia é, por excelência, a ciência do
homem, na sua dimensão psíquica; estuda o psíquico do homem, como um ser
singular e diferente de todos os outros, (estando exposto a inúmeras variáveis
externas), através do comportamento do mesmo, sendo este observável e,
sentimentos e pensamentos visíveis ou ocultos.
Se quisermos invocar os conhecimentos acumulados,
hoje ao nosso dispor, poderíamos recuar a “Descartes”, início do séc. XVII,
para justificarmos a importância da Psicologia, quando aquele filósofo já
afirmava que o homem é composto por duas substâncias: uma, de natureza
espiritual, a substância pensante (a rés
cogitans); outra, de natureza material, a substância extensa (rés extensa), e só esta última pode ser
objeto das Ciências da Natureza, ficando a substância pensante, lugar de
liberdade, para a reflexão filosófica. Não desenvolverei aqui a história da
Psicologia, nem os seus progressos, (não estou preparado cientificamente para o
fazer) todavia, mais tarde, refletirei sobre a importância da ciência em geral,
para a valorização, implementação e respeito pelos Direitos Humanos.
O Homem estava convencido que: a ciência constituía
a panaceia para todos os males; o método científico era, por excelência, o
único que nos conduzia à realidade; as teorias positivistas e evolucionistas
traduziam o expoente máximo do otimismo generalizado, que estimulava e
rejubilava com a capacidade de transformação humana, no sentido de um mundo
melhor; a educação, até então baseada na cultura humanista, é reformulada e
procura a inclusão dos estudos científicos nos currículos escolares, contudo,
ainda no séc. XIX, e já no séc. XX, algumas descobertas, provocam rudes golpes
nas conceções clássicas, originando aquilo que alguns designam por crise da
ciência moderna.
Ciência, Técnica e Filosofia, constituem, portanto,
um trinómio que deve ser inseparável, não se devendo tentar sobrevalorizar um,
em detrimento dos outros, porque eles constituem, apenas, uma parte dos conhecimentos
e práticas que caracterizam a Humanidade, sendo certo que: enquanto assim não
se proceder, o mundo não terá paz; as desigualdades entre as pessoas aumentarão;
até ao dia em que uma esmagadora maioria de excluídos, se revoltará e tomará
conta dos destinos de todos.
Nesta perspectiva, é fundamental o respeito, cada
vez mais responsável, pelos Direitos Humanos, não só nas Cartas e Declarações
de “boas intenções”, mas, e principalmente, em atos concretos e permanentes.
Pedir a alguns dos mais altos responsáveis políticos, religiosos e outros
detentores do poder, uma prática regular de bons exemplos, a partir das
instituições que chefiam, é um dos objetivos que este trabalho pretende alcançar,
sem quaisquer acusações, ressentimentos, ou polémicas que não conduzem aos
resultados pretendidos.
Bibliografia
LEGRAND,
Gerard (Dir.), (1983). Dicionário de
Filosofia, Tradução, Armando J. Rodrigues e João Gama, Lisboa: Edições 70.
TAVARES,
Manuel & FERRO, Mário, (1983). Guia do Estudante de Filosofia. 4a
Ed. Lisboa: Editorial Presença.
“NÃO, à violência das armas; SIM, ao diálogo criativo. As
Regras, são simples, para se obter a PAZ”
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=924397914665568&id=462386200866744
Venade/Caminha
– Portugal, 2023
Com o
protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
http://nalap.org/Directoria.aspx
http://diamantinobartolo.blogspot.com
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