Numa perspectiva
negativa, obviamente que a violência será um motivo de perturbação da ordem,
quer a partir da generalidade das pessoas, quer a partir das Autoridades. Os
atos de violência definem pessoas e ideias, pelas suas intenções e
consequências que produzem.
Os atos humanos de
violência manifestam-se no homem, mas não o afetam no seu conteúdo profundo,
nem qualificam para exprimir os seus fins últimos, todavia, o Cristianismo, não
ignorando, nem subalternizando a violência, considera-a substituível, com
vantagem imediata para os diferendos entre os homens, pela consciencialização
do papel do amor ao próximo, dependendo da vontade do homem, tal substituição.
Qualquer que seja a
constituição da sociedade, sempre haverá um certo número de regras, por muito
rudimentares que sejam, que impõem uma determinada, hierarquização de
princípios, de valores, de sentimentos e dos papéis que cada um deve
desempenhar e defender.
A violação das regras
será, na maioria dos casos, uma violência que, naturalmente, suscitará uma
reação violenta por parte de quem as impôs. Aqui pode-se colocar a questão de
se avaliar até que ponto tais regras são justas ou injustas: se foram
instituídas por um governo democrático; ou impostas pela força despótica de um
regime absoluto.
Resulta que a violência,
a partir das cúpulas, será ainda mais perturbadora da ordem, do que a violência
desencadeada pelas bases do povo anónimo, porque estas, de uma forma geral, não
têm mecanismos repressivos ao seu alcance. Mas, seja qual for a proveniência da
violência, esta, efetivamente, perturba a ordem no aspeto em que quebra a
harmonia anteriormente existente.
Se se abordar o
desencadear da violência, a partir das cúpulas do Poder e dos seus agentes, não
se torna difícil descobrir, por detrás dela, situações de inaceitável
incompetência daqueles que têm a obrigação de se assumir capazes, consensuais,
dialogantes, tolerantes e pedagógicos.
Com efeito, verifica-se,
frequentemente, que o recurso dos incompetentes aponta para a tomada de
atitudes fechadas, violentas e ditatoriais, muitas vezes com risco da própria
integridade física dos intervenientes, num processo de resolução de um
conflito, numa determinada instituição.
Ora, se as regras sociais
são impostas pela hierarquia, sem consulta às bases, e se tais normas são
desfavoráveis à maioria das pessoas, obviamente que estas procurarão reagir
contra o seu cumprimento e, desta reação, será possível a manifestação de
atitudes violentas, principalmente de natureza física.
Aqui entra o primeiro
aspeto da incompetência, na medida em que: se por um lado, os responsáveis pela
aprovação, promulgação e execução de tais normas, não são capazes de explicar,
conveniente e convincentemente, as razões e alcance das mesmas, até porque lhes
poderá faltar a legitimidade que lhes advém da adesão popular;
Por outro lado, não são
suficientemente compreensivos, face às razões morais, cívicas, religiosas e
éticas que são expostas pelos grupos atingidos, assumindo, então, tais
responsáveis, posições rígidas, comunicação autoritária e manifesta
incapacidade para encontrar soluções alternativas, consensuais e de
compromisso, apoiando-se, neste caso, no papel de Autoridade que, entretanto
assume, procurando desempenhar as respetivas funções de forma a poder vir a
merecer o elogio dos correligionários, ainda que tendo atuado contra os mais
elementares e legítimos interesses das pessoas, incluindo, eventualmente, a
violação dos direitos humanos, que a todos os cidadãos têm direito de usufruir.
A incompetência, assim
assumida, não resolve nenhum problema de fundo, ainda que, aparentemente, e
através dos mecanismos repressivos e punitivos, consiga, momentaneamente,
controlar a situação.
A tudo o que já foi
exposto, e partindo de uma posição de base, também se verificam atos de
violência de uma maioria contra uma minoria, ainda que livremente escolhida por
aquela, para defender os interesses coletivos, ou seja, a maioria não acata as
normas legitimamente impostas pela minoria, que governa democraticamente, provocando
alterações na ordem e paz sociais, com vista a pressionar os responsáveis da
governação, no sentido destes modificarem as regras da convivência, ou dos
interesses estranhos ao Bem-comum.
Em democracia, o governo
do povo é exercido pelo povo, através dos seus representantes, livremente
escolhidos. Esta regra de ouro, estabelecida entre as partes – povo e
candidatos –, não pode ser violada por nenhum dos signatários do acordo,
expressamente validado nas urnas, de contrário, mais tarde ou mais cedo, suceder-se-ão
atos de violência de qualquer natureza, mesmo num regime democrático
parlamentarista, ou seja, no regime da democracia representativa.
Ora, partindo do
princípio, segundo o qual os candidatos ao governo do povo, depois de eleitos,
vão cumprindo o acordo previamente estabelecido, com as mesmas regras do jogo à
data da validação daquele, e se, posteriormente, o povo reage violentamente, o
conflito só poderá ter uma, ou mesmo duas origens: ou os governantes são
incompetentes sob vários aspetos e não cumprem o acordado; ou o povo não tem a
formação cívica e a estatura moral suficientes para cumprir a sua parte.
Aqui surge a violência,
exatamente a partir da base, devido a: insuficiente formação educacional e
cívica da população, no pressuposto de que os governantes estão a cumprir o que
foi antes estabelecido; ou os responsáveis políticos no poder, não estão a
cumprir com o que prometeram para a celebração do acordo, isto é: não estão a
honrar a palavra dada. Esta última situação, incumprimento das promessas e, em
alguns casos, até fazem o contrário, infelizmente é a que se verifica com muita
frequência.
Admitindo-se, então, que
a reação popular não se justifica, minimamente, compete, necessariamente, aos
governantes eleitos, reagir de forma a restabelecer a legalidade democrática,
contra uma maioria que, certamente, devido a insuficiências da sua estrutura
cívica e moral, não honrou os compromissos anteriormente assumidos, e que ela
própria sufragou em eleições livres.
Nesta situação, é bem
possível que chegue a existir violência sob diversas formas, nomeadamente:
física, psicológica, ideológica, coerciva, ou outra e que, após a reposição da
ordem, se conclua que não haveria outra alternativa para qualquer das partes
envolvidas.
Para evitar situações
originadas na impreparação dos cidadãos vem-se defendendo, desde há alguns
anos, uma formação para a cidadania, ao longo da vida, a par da restante
atualização no contexto profissional. Muito dificilmente um mau cidadão poderá
ser um bom governante.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
1 comentário:
CARO DIAMANTINO:
COMO BEM POSTULA, O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA, COMO OS DEMAIS PROBLEMAS DA SOCIEDADE HUMANA, SÃO POR DEMAIS COMPLEXOS PARA QUE, AOS TANTOS, POSSAMOS DAR SOLUÇÃO RÁPIDA E EFICIENTE.
COMO ESPÍRITA QUE SOU SIGO A POSTURA DE QUE A SOLUÇÃO PASSA PELO CRISTIANISMO, OU SEJA: PELA EDUCAÇÃO DO HOMEM QUE, AFINAL, É UM SER PALINGENÉSICO, QUE SE APRIMORA NO DECURSO DE LONGAS ERAS EVOLUTIVAS.
PORTANTO, CREIO QUE O MUNDO SERÁ REGIDO, MAIS ADIANTE, POR UMA POLÍTICA SOCIAL-CRISTÃ, TAL COMO SE REGISTRA O VOLUMOSO E MARAVILHOSO TRABALHO DE PIETRO UBALDI, DE TÍTULO, "A NOVA CIVILIZAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO" (FUNDAPU), QUE CONTÉM AS DIRETRIZES DA NOVA SOCIEDADE TERRENAL.
ACREDITO QUE O HOMEM AINDA VAI APROFUNDAR SEUS ESTUDOS DA OBRA UBALDIANA, OBRA ESSENCIALMENTE CRISTOCÊNTRICA.
GRANDE ABRAÇO DE:
Fernando Rosemberg Patrocinio
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