A sociedade humana, que é uma construção do génio
humano, continua, complexa, apesar de toda a evolução da sua estratégica
organização, da proliferação e aplicação de regras, complexa, difícil e
conflituosa, gerando situações que já não são compatíveis com o estatuto
superior que deveria corresponder à dignidade da pessoa humana, numa
organização que tem a obrigação de se conduzir pelos princípios, valores,
sentimentos e emoções, referenciais desta superior espécie.
O homem (abrangendo, obviamente, os dois géneros:
feminino e masculino) que ao longo da sua história, a partir do seu mais remoto
antepassado, cientificamente denominado por “hominídeo”, considerando, ainda, a sua evolução, nas abordagens
filogenética e ontogenética, certamente que tem sido objeto de um progresso, a
todos os títulos notável, que nenhuma outra espécie animal terá conseguido.
A incapacidade para o homem alcançar os absolutos
não significa, de modo algum, uma situação de total relativismo, porque dentro das
limitações humanas, existem situações, valores, princípios, sentimentos,
emoções, deveres e direitos que não devem ser relativizados, de contrário,
duvidar-se-ia das realizações que a ciência, o conhecimento, a técnica e os
resultados concretos têm revelado ao homem; este duvidaria, no limite, da sua
própria existência.
O que se pretende alertar é para a precariedade da
espécie humana, com o dramatismo que lhe é dado viver, justamente por conhecer
as suas próprias insuficiências e limitações concretas. Afigura-se, portanto,
difícil, afirmar que uma determinada pessoa é, absolutamente, ética, moral,
honesta, perfeita ou qualquer outro atributo sublime.
Descobrir, aplicar e validar a fórmula mágica para
pacificar a sociedade humana são tarefas que, decididamente, não se vislumbram
com facilidade, e até se pode questionar se alguma vez isso será possível, pelo
menos sem a vontade e determinação de todos os indivíduos.
Parece haver todo um longo e relativamente difícil
caminho a percorrer, cujo início terá de se estabelecer na base de uma formação
inicial, bem cedo na vida, continuando com uma atualização persistente ao longo
da existência humana, nos domínios da cidadania.
Lançar as bases para uma “Nova Ordem Internacional Cívica”, elegendo a cidadania como um
imperativo universal, no que ela contém de princípios, deveres, direitos,
valores e/ou, se se preferir, uma ética comprometida com a sociedade, uma ética
exercida com competência por todos os cidadãos, independentemente do seu
estatuto.
Vivenciar e usufruir dos benefícios da cidadania,
numa sociedade democraticamente livre será, porventura, a situação que todo o
cidadão responsável e competente deseja. O cidadão moderno, culto, no sentido
antropológico que o conceito de cultura implica, capaz de utilizar, para o
bem-comum, todas as suas capacidades cognitivas, técnicas e humanas, deverá ser
formado, rapidamente, através e pelas diversas instituições da sociedade
global: família, escola, Igreja, comunicação social, comunidades, vizinhos,
empresas e até pela “Instituição”
Natureza que tanto pode ensinar, quando o homem lhe presta atenção.
Atitudes de confiança nas capacidades humanas e no
desenvolvimento de boas-práticas, constituem algumas das estratégias possíveis
para se erradicarem do indivíduo, da comunidade e do universo, diversas patologias preconceituosas, que impedem
o homem de se manifestar pelo seu lado bom, que lhe será inato. O processo que
pode, em grande parte, contribuir para uma sociedade melhor, no sentido da
justiça, da paz e do bem-estar coletivos, passa, também e necessariamente, pela
educação e formação éticas.
Haverá, porventura, alguma falta de sensibilidade
para os valores da solidariedade, da caridade e da entre-ajuda; alguma ausência
de ética para o dever de proteger os mais fracos e discriminados. Interiorizar
um conjunto de valores, no domínio da ética social, que conduzam às
boas-práticas da convivência humana, digna entre cidadãos, que deveriam ter
todos o mesmo estatuto de cidadania, poderá ser uma outra estratégia que, apoiada
em diversos recursos humanos e financeiros, eliminaria esta chaga social, que
alastra com o aumento da discriminação e da exclusão social, política, laboral,
cívica, religiosa e outras, mais se aproximando de uma “globalização da exclusão”, porque remete milhões de cidadãos,
grande parte dos quais deram, enquanto novos, o seu melhor à sociedade que
agora os exclui, para os guetos da miséria, do esquecimento e do ostracismo.
A comunidade em geral, e o indivíduo em particular,
devem preparar-se para a construção de uma nova Ordem Internacional para a Ética e para a Justiça que imponha a
igualdade no respeito pelas diferenças, sem discriminações: sejam privilégios;
sejam exclusões negativas, num espírito de solidariedade, cada vez mais
abrangente, aceitando, naturalmente, as diferenças entre indivíduos e povos,
porque ela é natural e caracteriza cada parte.
A igualdade deve ser estabelecida, precisamente, no
que respeita ao relacionamento interpessoal, no acesso às oportunidades e aos
bens comuns, porque no restante, é muito complexo, eventualmente, injusto,
tratar de forma igual aquilo que é desigual. O conceito de Justiça, a partir do
respeito pelas diferenças, pode ser um atributo das democracias modernas.
Uma ética societária que apele para o compromisso do
dever e motive para o cumprimento dos deveres sociais de solidariedade, de
respeito pela dignidade de toda a pessoa humana e recuperação/integração de
todos quantos estão excluídos, constitui, no início deste século XXI, um
imperativo universal.
Assuma-se, inclusivamente, a Ética no seu sentido
pragmático, de boas práticas, porque o importante e decisivo é que todo o
cidadão interiorize o conceito do dever, como uma boa metodologia ao serviço
daqueles que mais necessitam. Uma Ética dos valores religiosos, políticos,
sociais, económicos profissionais e cívicos.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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