É normal e desejável que toda e qualquer
organização tenha bem definidos os seus princípios, valores, missão, estatutos,
objetivos, como de igual forma é crucial que uma pessoa, razoavelmente bem formada,
tenha a sua própria hierarquia axiológica, que divulga e pratica, dentro dos
limites aceitáveis, em conformidade com uma reciprocidade que em princípio pode
(nalgumas situações, deve) exercer.
Ao longo da vida damos e recebemos, por vezes,
trocamos, intencionalmente, favores, influências, objetos, prendas: materiais e
imateriais, retribuímos valores, sentimentos, atitudes, afetos. Durante a sua
existência, a pessoa, verdadeiramente humana, tem capacidade para realizar atos
incomensuravelmente altruístas, sendo legítimo, todavia não exigível, que
espere atitudes recíprocas, porque afinal, lá diz o bom povo: “Uma mão lava a outra; as duas lavam o
rosto”, para além de um valor fundamental que existe nas pessoas de bem e
que se denomina por “Gratidão”.
Qualquer pessoa bem formada, que é alvo de:
atenção, consideração, estima, solidariedade, amizade, lealdade, cumplicidade,
carinho e afeto, naturalmente que jamais poderá esquecer quem lhe fez e/ou
continua a fazer tanto bem, nunca poderá ignorar que a ajudou a alcançar
determinado estatuto social, ou uma outra qualquer situação e, em circunstância
alguma, poderá hostilizar quem por ela deu tudo, ficou a dever favores,
arriscou, inclusive, eventualmente, algum conforto próprio e/ou de familiares.
Sabe-se que há, para a sociedade em geral e,
também, para as pessoas individualmente consideradas, um conjunto de
procedimentos previsíveis, atitudes perante determinadas situações, princípios
e valores, que se observam, sem grande dificuldade, e que não são suscetíveis
de serem negados, pelas pessoas que os praticam e/ou deles beneficiam.
Existem, ainda, sentimentos e emoções, que se
controlam, ou não, que revelam a constituição psíquico-emocional de uma dada
pessoa, só que, por vezes, a dissimulação da personalidade é tão perfeita que,
quem está de boa-fé, acaba por ser enganado por criaturas manipuladoras,
bajuladoras e cínicas.
Quando se defende, por exemplo, a “Lealdade nas Relações Pessoais”, a
solidariedade, a amizade, a ética, a tolerância e tantos outros valores humanistas
e cristãos, parte-se do pressuposto que se está a conviver com pessoas que
comungam de idêntico comportamento, aceitando-se que: «Os indivíduos se unem e recriam pela linguagem afetiva, os sentimentos
de amor e de pertencer a um mesmo destino e a uma mesma jornada histórica.»
(CARVALHO, 2007:53).
Conceptualizar-se-á o afeto neste contexto, ou
seja: de sentimentos recíprocos, que devem ser partilhados pelos membros de uma
equipa, que se forma para atingir determinados objetivos legais, legítimos e
justos, onde, naturalmente, há um líder em quem se confia e, inclusivamente, se
lhe manifesta consideração, amizade, lealdade, solidariedade e afeto,
esperando-se que esse chefe retribua tais valores e sentimentos, aos restantes
membros do grupo e, se assim acontecer, poder-se-á estar perante um líder
humilde, competente solidário.
Infelizmente, os tempos são diferentes, a palavra
de honra, o respeito, a gratidão, a consideração e a estima raramente funcionam
ao nível da reciprocidade, por isso, não é de estranhar que quando alguém é
ofendido, nos seus princípios, valores, sentimentos e dignidade, fique
profundamente magoado, porque, em bom rigor, esta pessoa está a ser “apunhalada pelas costas”, precisamente
por quem dela recebeu todas as atenções, apoio, consideração e, em alguns
casos, amizade sincera e incondicional.
Será demasiado pretensioso exigir-se a alguém que,
depois de ser humilhado, ofendido e marginalizado, esteja disponível para
esquecer, para, tal como Jesus Cristo, dar a outra face do rosto, e porque
somos humanos, a perfeição e a abnegação totais não existem em nós,
evidentemente que, como refere o adágio popular: “Quem não se sente, não é filho de boa gente”, portanto, é
necessário enveredar sempre pelos caminhos da afetividade, do compromisso, do
respeito e da reciprocidade, designadamente para o Bem.
Acontece, cada vez com mais frequência e despudor,
certas pessoas, aproximarem-se de outras, que sabem ter alguma influência,
serem conhecidas, bem colocadas no meio local, para lhes subtraírem conhecimentos,
apoios, favores diversos, para atingirem determinados objetivos, incluindo os
de promoção pessoal, protagonismo, alimento de narcisismos doentios e depois de
alcançarem os fins premeditados, revelarem a sua formação e sentimentos
ignóbeis.
Tais pessoas, sem princípios, nem valores, nem
sensibilidade, verdadeiramente humanistas, valem-se de métodos e estratégias do
tipo: “pezinhos de lã”, bajulação e
hipocrisia; nunca elevam a voz; não gesticulam desabridamente; tudo é
calculado, premeditado, qual predador que espera a presa inofensiva;
comportam-se como o “Deuses do Bem”
entre os pobres e pacíficos mortais; conseguem, inclusive, convencer quem com
eles está de boa-fé. Trata-se de pessoas singularmente maquiavélicas, em que
tudo é planeado ao pormenor, no espaço e no tempo, situações maldosamente
engendradas e nos resultados esperados.
Deploravelmente, as vítimas deste tipo de gente são
pessoas de bem, por vezes com excelente educação e formação, que antes preferem
afastar-se do que responder com idênticos comportamentos e processos, mas
sempre fica a mágoa, a dor e o sofrimento, porque o pior que pode acontecer a
uma pessoa é ser “apunhalada” por
quem tinha por amiga/o, com quem estava disposto a colaborar, para objetivos
dignificantes de instituições e pessoas.
Ao longo da nossa existência, deparamo-nos com as
mais diversas e inesperadas situações: umas excelentes, outras muito boas,
ainda outras menos boas e, finalmente, também não escapamos às más e muito más.
Não temos a capacidade de evitar tudo o que nos é prejudicial, nem a faculdade
de construirmos o melhor dos mundos para nós, família e amigos. Somos fracos e
limitados.
A vida, de facto, não é, como se costuma dizer: “um mar de rosas sem espinhos”, nem um
universo de facilidades, em nenhum dos domínios que nos ocupam a existência.
Sempre encontramos dificuldades, seja na saúde, no trabalho, nas relações
interpessoais, nos sentimentos, nem sempre correspondidos, nas emoções
incompreendidas, nos valores, por vezes traídos, por quem menos esperávamos que
o fizesse. Na verdade, a existência humana é complexa.
Caminha-se, por vezes, sem rumo, outras, procurando
um porto seguro, ou, ainda, buscando o farol da orientação que nos conduza à
concretização de objetivos materiais e/ou imateriais legítimos, justos e
legais. Navegamos num espaço de incertezas, de turbulências diversas que,
quantas vezes, desejamos terminar com tudo, descansar num “outro local” que, alguns, acreditam, possa existir.
“O mundo, tem muitas esquinas”; “a vida, muitos altos e baixos”.
Não haverá ninguém neste espaço terreste que, estando muito bem hoje, não
venha, amanhã, a passar tempos muito difíceis, como jamais alguém poderá
afirmar que não precisa do seu semelhante, mesmo que este seja o seu maior inimigo.
Sempre foi assim ao longo da História da Humanidade: o mais rico, precisa do
mais pobre; o mais forte só o é, enquanto o mais fraco não se tornar forte; o
empresário só tem sucesso se os seus trabalhadores colaborarem, afincadamente,
para os melhores resultados.
Ao ler-se esta reflexão pode pensar-se que tudo não
passa de falsos moralismos, de uma ética social anacrónica, de “lamechices” de quem está profundamente
ofendido, magoado, que não merecia a deslealdade e a ingratidão de quantos
foram ajudados, incondicionalmente, com total solidariedade, amizade e
sinceridade, onde alguns ainda não conseguiram tudo a que têm direito, mas em
que outros já desempenham um qualquer poder, obtiveram mais um elevado estatuto
social, no seio da comunidade, enfim, ingratidão por parte de quem hoje se
vangloria de exercer um domínio quase total.
O mundo tem muita gente pouco confiável, pessoas
que utilizam sorrisos forçados, que através da flexibilidade manipuladora,
conseguem conviver com todos, para todos e por todos, desde que isso lhes
proporcione uma boa imagem social, reina a mentalidade de “agradar a Gregos e Troianos”. Não importa que neste relacionamento,
dito “social”, ao conviver com uns, tenhamos de magoar outros, porque convém
fazer jogos duplos, que são determinantes para que as mentalidades
subservientes e bajuladoras fiquem bem vistas na sociedade.
Vive-se, de
facto, de aparências, de falsas aparências, porque o importante é agradar e
conseguir-se o que se deseja, nem que para tal tenha de se vender dignidade,
reputação, trair amigos, não ter respeito por si próprio nem pelos outros,
afinal, é conveniente: “Servir a Deus e
ao Diabo”. É claro que o “verniz
social” vai derretendo, os “punhos de
renda” vão-se sujando e rompendo e, finalmente, estas “máscaras” vão caindo e fica à mostra a figura miserável de quem nos
enganou.
Felizmente que, por outro lado, ainda se assiste a
algumas, ainda que poucas, boas-práticas no âmbito das relações interpessoais,
de consolidação de amizades, de comportamentos solidários, amigos e leais,
recebem-se, também, atos de autêntica gratidão, de sincera camaradagem e
consideração, principalmente por parte de uma camada de jovens e ainda de
pessoas com idades mais avançadas, que nos respeitam e por nós têm afeto,
porque sabem que a recíproca é verdadeira.
É tempo, portanto, de sermos prudentes, sábios, no
sentido de nos podermos defender de quem pretende aproveitar-se de nós, para
fins de satisfação exacerbada do próprio ego, normalmente pessoas extremamente
vaidosas, ambiciosas e prepotentes, de ideias perigosamente fixas, que não
olham a meios para atingirem os fins almejados, por isso, se apela que a quem
assim age, pense todos os dias, durante alguns minutos, que tais “reinados” acabam, normalmente, sem honra
nem glória.
Bibliografia
CARVALHO,
Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de
Janeiro: SENAC Nacional
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
E-mail:
bartolo.profuniv@mail.pt
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal:
http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
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