Deparam-se, contemporaneamente, diversos, graves e
complexos problemas sociais, originados em diferentes comunidades, em contextos
naturais ou artificiais, com objetivos explícitos ou intencionalidades inconfessáveis
e, quaisquer que sejam as áreas de intervenção: política, religiosa, ecológica,
económica e financeira, a dimensão cultural está, intrinsecamente, mais ou
menos envolvida, por isso não se deve estranhar este permanente confronto de
culturas, tanto mais acentuado quanto mais o fator étnico-rácico se revela e
interfere.
Na verdade, nunca como hoje se falou tanto em
culturas, multiculturas, interculturas, de tal forma que se coloca a questão,
cada vez com mais pertinência, se não se estará a caminhar para uma hibridação
cultural, ou uma cultura transgénica, como quaisquer outros produtos do campo
alimentar e biológico?
Deverá a cultura ser manipulada até ao radicalismo
etnocêntrico? Ou, pelo contrário, porque não se caminha no sentido do reconhecimento
cultural, sem lutas, sem supremacias, sem exclusivismos? Ou, ainda, tendo em
conta que devido ao sonho totalitário da pureza étnica – na raiz de reiterados
e alegados crimes de Estado, conforme os que se teriam vivido no séc. XX –
porque não se aceita que as sociedades culturais se venham afirmando pela tal
hibridação de culturas, decorrente, entre outros fatores, da generosa mistura
de gentes?
A policromia cultural avança, portanto, contra a
autocracia do Estado, para diluir a autoridade de homogeneidade, ultrapassar a
conceção de uma cultura oficial que, subtilmente, controla o acesso à
cidadania, e aceita como inevitáveis a diversidade e a necessidade de construir
uma nova ordem paradigmática, respeitadora do pluralismo cultural.
E se é certo que alguns governos vivem preocupados
porque a democracia revela fragilidades, entre as quais se destaca a
popularidade de novos grupos políticos e ideologias diferentes, não é menos
verdade que a coesão social se vê afetada pelos confrontos étnicos, religiosos,
linguísticos ou culturais: Palestina-Israel, Rússia-Ucrânia, Síria,
Bascos-Espanha, enfim, um pouco por todo o mundo, os conflitos vão surgindo, as
dificuldades para os resolver não param de aumentar: o recurso à agressão
deixou de poder passar incólume, perante a mediatização da informação e a
proliferação de uma cultura de cidadania universal e de direitos humanos que
não se intimida nas fronteiras físicas e políticas.
O fenómeno cultural não está, por enquanto,
suficientemente estudado e aprofundado, muito embora exista uma crescente
consciencialização, designadamente nos Estados Democráticos, para uma apologia
de tolerância cultural, no sentido de se aceitar uma interrelação cultural dos
povos que, no seu início, pode fomentar atitudes e reflexões sobre a
importância das diferenças, e a correlativa indispensabilidade do
reconhecimento das diversas culturas.
A hibridação cultural, a partir dos movimentos
migratórios, pode ser uma boa solução para atenuar conflitos, quer através da
convivência interpessoal quotidiana, quer pelo relacionamento laboral, quer
pela união matrimonial: «c) o apoio a
famílias híbridas: no quadro mais vasto de uma política do incentivo à
instituição familiar importará reconhecer a especificidade das famílias mistas
e o seu relevante papel como instâncias de socialização dos diferentes para a
paz e para a pacificação (...)» (CARNEIRO, 1999:43-48).
Bibliografia
CARNEIRO, Roberto, (1999). “Choque
de Culturas ou Hibridação Cultural”, in Nova Cidadania, S. João
do Estoril/Lisboa: Principia, Publicações Universitárias e Científicas, (2),
pp. 43-52.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689
Imprensa Escrita Local:
Jornal: “O Caminhense”
Jornal: “Terra e Mar”
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
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