A humanidade vive, intensamente, assoberbada em
problemas, os mais peculiares que é possível imaginar, no âmbito de uma
sociedade freneticamente consumista, independentemente de, nem sempre estarem
reunidas as melhores condições, para a aquisição de certos bens e produtos,
porque o relevante é o TER, o parecer que se possui, não importando as
conjunturas em que se obteve o artigo, o bem ou serviço que outras pessoas
também já têm. A imitação, o desejo de ter melhor do que o vizinho, o
conhecido, o colega ou mesmo o amigo, são mais fortes do que outras atitudes,
princípios, valores, sentimentos e emoções.
Com excessiva insensibilidade, trocam-se pessoas
amigas como quem permuta de camisa, desde que daí resultem quaisquer
benefícios, quanto mais não seja, demonstrar que se tem um orgulho muito
próprio, que se é totalmente independente e que, se necessário for, até se
despreza e humilha, precisamente quem, incondicional e verdadeiramente, sempre
esteve na linha da frente, para nos apoiar, para nos defender, para connosco
idealizar projetos de vida e/ou de trabalho.
Claro que os sentimentos não têm idade, não são
desta ou daquela geração e a sua autenticidade, quantas vezes, está mais
consolidada em gerações seniores, do que nas mais jovens. Por exemplo, quem
pode garantir que a amizade, ou o amor, são mais verdadeiros aos vinte, trinta,
quarenta, cinquenta, sessenta, setenta ou oitenta anos? Quem pode,
cientificamente, afirmar que é impossível um amor incondicional, sério e
duradouro entre duas pessoas de gerações diferentes, com diferenças de idade
significativas, à volta de vinte, trinta, ou mesmo mais, anos?
Os sentimentos não têm idade, nem prazo de
validade. Eles podem ser tão ou mais genuínos aos vinte do que aos setenta
anos, sendo que a assertiva inversa também poderá ser verdadeira. O que
interessa discutir, neste trabalho, em termos genéricos, embora enfatizando uma
ou outra dimensão humana, são os aspetos que se relacionam com a felicidade dos
amigos, do casal, que realmente se gostam, se amam, seja um amor “amor-de-amigo”, seja um amor
matrimonial, respetivamente, mas que seja sincero, inequívoco e incondicional.
Pode-se analisar várias possibilidades de
relacionamento, ao nível da amizade e do amor entre pessoas de gerações
diferentes, incluindo aquelas com algumas décadas de diferença. Naturalmente
que não se ignora que poderá haver algumas perturbações no quadro biosexual,
quando a diferença de idades é superior a trinta/quarenta anos, mas esta é,
apenas, uma dimensão da relação, obviamente, necessária, muito importante para
a manutenção da satisfação de desejos fisiológicos, subsistência da
estabilidade psico-emocional e realização permanente de uma elevada
auto-estima, para além de um objetivo supremo, para os casais que assim o
desejam, consubstanciado no projeto familiar de ter filhos.
Mas se por um lado, uma relação entre duas pessoas,
independentemente do género e/ou, particular e naturalmente, entre um homem e
uma mulher, não é apenas, ou tão só, a prática sexual regular, de resto, esta,
eventualmente, quantas vezes passa a um plano secundário, quando existem
determinadas situações que originam preocupações de vária ordem, que até
desincentivam o ato sexual, ou nem sequer proporcionam condições físico-psicológicas
para o realizar.
Por outro lado, também é verosímil que, havendo,
contudo, a prática regular sexual, muitas vezes por imposição do homem, o facto
é que o casal não é feliz, na medida em que ocorrem situações, por exemplo, de
maus tratos em geral, e/ou violência doméstica em particular, materializada
através dos mais diversos processos, conteúdos e formas.
Nestas circunstâncias, é bem possível que a mulher
não só não tenha qualquer gozo, como também se sinta humilhada e utilizada como
um simples objeto de prazer masculino, de um “companheiro” insensível ao
sofrimento da parceira, recorrendo a um certo alegado ascendente machista, pela
força física e/ou coação psicológica.
Se se analisar duas situações, nas quais intervêm:
um casal da mesma geração em que ambos os parceiros, de géneros diferentes, são
de idades muito próximas; e outro casal de gerações diferentes, em que um dos
elementos, por exemplo, o masculino é mais velho trinta ou quarenta anos,
verificando-se que no primeiro casal existe muita atividade sexual, muito
conflito, violência de vária ordem, sendo a mulher, praticamente, desprezada,
exceto no ato sexual, não existindo, de facto, qualquer sentimento de amor
sincero e, quanto ao segundo casal, em que os atos sexuais são muito espaçados,
mas onde há um relacionamento de profundo amor, carinho, respeito e uma atenção
permanente do companheiro, para com a sua parceira, coloca-se a seguinte
questão: Qual dos casais será, verdadeiramente, feliz? O da mesma geração ou o
de gerações diferentes? Nas situações apresentadas, que responde a mulher? Mas,
e se for ao contrário, que responde o homem?
As relações interpessoais entre as pessoas,
assentes em alguns princípios, valores, sentimentos e emoções, certamente, e na
maioria das situações, têm sempre projetos e objetivos que as suportam e
alimentam. A estabilidade, a confiança, a cumplicidade, a solidariedade e a
lealdade entre duas pessoas, que desejam um relacionamento responsável e sério,
são essenciais, porque depois os demais valores e sentimentos como que se
aglutinam à volta do projeto comum da amizade-amor, sem quaisquer complexos
etários, ideológicos e culturais.
A felicidade não escolhe idades, nem situações
estatutárias, nem posições político-religiosas, nem sócio-profissionais. Quem
luta para ser feliz, seguramente que se preocupará em encontrar a pessoa que
reúna condições de poder garantir os melhores valores e sentimentos, antes de
quaisquer outros requisitos físicos e materiais, porque o importante é
desfrutar-se de uma companhia que nos seja solidária, amiga, leal, cúmplice e
condiscípula, que nos ame e se deixe amar, sem medos, sem vergonha, sem
preconceitos de nenhuma natureza.
Pode-se tentar compreender, concordando, ou não,
que uma pessoa mais jovem do que outra não queira com esta qualquer
relacionamento de amizade-amor, a partir de argumentos psicossexuais e
físico-intelectuais que, ainda assim, não representam garantia de total
felicidade, dependendo, inclusive, do conceito que deste valor se tiver, até
porque, com muita frequência, e entre imensas pessoas, os conflitos e a
desventura grassam em todas as idades e relações.
Existem muitos exemplos de casais notoriamente
felizes, apesar de entre os seus elementos, por vezes, haver uma diferença de
idades, mais ou menos acentuada, trinta, quarenta anos e, em contrapartida,
assiste-se ao desmembramento, quase diário, de famílias jovens, da mesma
geração, por vezes com filhos pelo meio, que não têm culpa, nem pediram para
nascer, mas que, em primeira mão, são os que mais sofrem com as desavenças do
casal.
O divórcio nos casais jovens, ou mesmo nas faixas
etárias dos trinta e quarenta anos, da mesma geração, possivelmente, ocorrem em
muito maior percentagem do que nos cônjuges, ou namorados, nos quais existe uma
substancial diferença de idades. Nestes casais, o elemento com mais idade,
normalmente, é como que o “Porto de Abrigo” no qual se encontra segurança,
conforto, compreensão, respeito e um futuro tranquilo e feliz, porque a
experiência de vida, alguma sabedoria e prudência do sénior, são a garantia
dessa felicidade.
Os conceitos de respeito, responsabilidade e
verdade estão interiorizados na maior parte das pessoas com idade bem madura,
são a garantia de que se pode confiar na maior parte delas, que não deve haver
receio de se lhes abrir a consciência, doar-lhes sentimentos, confiar-lhes os
pensamentos, os projetos, as alegrias e as tristezas, os sucessos e os
fracassos, ao contrário do que em muitos casos e com pessoas irrefletidas,
inconstantes e exibicionistas, não se deve fazer.
Hoje verifica-se uma situação que favorece muito o
relacionamento sentimental intergerações e que é o permanente aumento da
esperança de vida, apoiada em diversos cuidados a que muitas pessoas têm
acesso: assistência médica e medicamentosa; alimentação; produtos de
conservação da pele e do corpo; revitalização dos órgãos, em geral. A diferença
física, entre pais e filhos, em muitos casos é pouco percetível,
confundindo-se, por vezes, com sendo irmãos.
Atualmente, o mais importante é o nosso controlo
intelectual, as atividades que, em qualquer idade, ainda desempenhamos com
eficácia, integrados em equipas, não só multidisciplinares em termos
técnico-científicos e socio-académicos, como também a nível etário, onde a
experiência, a sabedoria e a prudência dos mais velhos se conjuga e acasala com
a inovação, voluntarismo, criatividade e generosidade dos mais novos.
A felicidade é, sim, possível entre duas pessoas de
gerações diferentes, que verdadeiramente se amam e/ou se gostam, como no caso
de dois amigos incondicionais que nutrem um pelo outro um sincero
“Amor-de-Amigo”, que os une nessa qualidade e para sempre, desde que sejam
solidários, inequivocamente amigos, leais, cúmplices e reciprocamente gratos.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone:
00351 936 400 689
Imprensa
Escrita Local:
Jornal:
“O Caminhense”
Jornal:
“Terra e Mar”
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
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