Ao longo das nossas existências fazemos coisas
certas e erradas, praticamos o bem e o mal, desejamos a felicidade para nós e,
quantas vezes, a desventura para os outros, somos agradecidos e ingratos,
prometemos e nem sempre cumprimos, fazemos amigos e inimigos, amamos e odiamos.
Praticamente, tudo nos acontece na vida: certas
situações, porque as provocamos; outras, nem tanto e, ainda outras, sem
sabermos porque acontecem, embora suspeitemos, sem provas (o que também é erro)
de onde e porque razões, podem surgir.
A complexidade da pessoa humana e da sociedade em
que ela se enquadra, e faz parte é, muitas vezes, incompreensível e não nos
possibilita encontrar soluções adequadas para as usufruir e/ou resolver
determinados problemas. Dir-se-á que “errar é próprio do ser humano” e ainda
bem que assim é, porque sempre se aprende alguma coisa com os erros.
O resultado do erro, em princípio, faz parte do
passado, e ainda que premeditado, na verdade, as evidências podem surgir num
presente que, quase simultaneamente, passa a pretérito, e as suas
consequências, prolongam-se durante muito tempo, são como que um futuro
previsível para, em muitas pessoas, se tornar para sempre, eventualmente, sob a
forma de remorso, arrependimento e sofrimento, quando se errou, mesmo que
involuntariamente, ou então não se consideram rigorosa e conscientemente os
malefícios do erro.
Persistir num determinado erro, sabendo que tal
atitude provoca uma qualquer situação desagradável noutra pessoa, seja de
natureza material, ou psicológica, ou espiritual é um comportamento muito
grave, inaceitável e que poderá revelar, inequivocamente, a formação interior,
distorcida, de uma determinada pessoa.
Habitualmente, o erro também provocará, quando
involuntário e em pessoas de boa-formação ético-moral, não só o arrependimento,
como a decisão de, rapidamente, reparar os prejuízos, principalmente em quem
mais os sofreu, incluindo, muitas vezes, a própria pessoa pela prática desse
erro. Certamente que quem assim procede, demonstra a sua humildade, seriedade e
boa-formação.
Praticar o bem: “sem olhar a quem”, como se afirma
na sabedoria popular, naturalmente, revela qualidades humanas acima do normal,
como a manifestação do reconhecimento, por parte de quem recebe esse mesmo bem,
igualmente demonstra boa-formação, e não é necessário dizer-se todos os dias,
“muito obrigado”, e, muito menos, sentir-se inferiorizado por receber um
determinado bem, um favor, uma atenção, uma palavra de carinho e de estima.
Mas entre o dar e o receber, o erro também poderá
estar subjacente, fazer parte de uma estratégia pseudo-altruista, se depois de
verificar-se que, afinal, o objetivo era bem diferente da pura intenção de,
francamente, ajudar alguém, porque prestar apoio, fazer bem, apenas deve ter
por finalidade facilitar a resolução de um problema, contribuir para que alguém
se sinta um pouco mais feliz, aliviar algum tipo de sofrimento, colaborar para
uma vida digna da pessoa que recebe auxílio de outra. Se assim não acontecer,
então a dádiva, o apoio, são um erro, porque interesseiros, inconfessáveis os
seus desígnios.
Claro que também se erra quando recebemos um
qualquer bem, que sabemos que é praticado, oferecido por pessoa
bem-intencionada, que nos quer muito bem, que se sente feliz com o nosso
bem-estar, que connosco se preocupa permanentemente, mas que nós não sabemos,
ou não queremos valorizar, que não reconhecemos e que apenas nos limitamos a um
bem-educado, “obrigado”, pronunciado quase por favor, então, nestas
circunstâncias, também estamos a errar, consciente e, eventualmente, com
orgulho e arrogância.
Quem pratica o bem, desinteressadamente, não vai
exigir, de quem o recebe, uma gratidão eterna, embora a expressão “eternamente
grato”, seja muito frequentemente e, muitas vezes, proferida com profunda
sinceridade e sentimento inquestionável de gratidão.
Ser-se grato, reconhecer e valorizar os atos bons
para connosco, revela, claramente, humildade, respeito, consideração, estima e,
em certas circunstâncias amizade e carinho. É claro que todos nós gostamos de
sermos contemplados com algum tipo de reciprocidade mas, à partida, não é
condição para se deixar de praticar o bem.
As pessoas até podem estar fisicamente muito
distantes, podem pensar que nunca mais se encontram, todavia, as manifestações
de atenção, apreço e afeto, como formas, também, de gratidão, por que não, de
amizade são sempre possíveis de se manifestar
Hoje, com as tecnologias e outros meios mais
simples, é muito fácil não esquecermos quem nos fez e/ou ainda nos faz bem e,
nesse sentido, um simples telefonema, um postal, um e-mail, um encontro para
tomar uma bebida, enfim, mil gestos que valem o que de melhor pode haver no
mundo, e que se chama consideração, estima, carinho, revelam, justamente, a
nossa gratidão por quem está sempre do nosso lado.
Esquecer quem nos faz bem será um erro, que provoca
um grande sofrimento e desgosto na pessoa que tanto se preocupou e/ou ainda
preocupa connosco, com quem, afinal, a ignora, a rejeita e se afastou depois de
estar servida. Ninguém gosta de, injusta e incompreensivelmente, ser ignorado e
humilhado, por quem recebeu solidariedade, amizade, lealdade.
A indiferença, a rejeição, o orgulho, são atitudes
que doem profundamente e fazem sofrer, dolorosamente, quem os recebe. Quem
utiliza tais comportamentos, tem de saber que está a errar, e tanto mais
gravemente, quanto a pessoa para com quem se tem estas atitudes, foi e/ou é sua
amiga. Pequenos gestos, algumas palavras, escritas e/ou orais, simples mas
sinceras, fazem toda a diferença e caraterizam a pessoa de bons sentimentos e
gratidão carinhosa.
É claro que ninguém é perfeito, mas seria desejável
que todos procurássemos a perfeição, mesmo sabendo que, possivelmente, jamais a
alcançaremos. Também, é certo que muitos erros que cometemos são premeditados ou
então, depois de os percecionar em nós, reiteramos a sua prática, porque com
tal comportamento estamos, eventualmente, a prosseguir num caminho que conduz
ao objetivo da satisfação de projetos mesquinhos, do tipo: “A vingança serve-se fria, em bandeja de
prata” ou ainda para exercer represálias, demonstrações de poder, de
autoritarismo e outros propósitos, inequívoca e confessadamente, maldosos.
O erro é, de facto, uma inesgotável fonte de dor e
de sofrimento, e quando praticado, conscientemente, com essa mesma intenção
maligna, será uma arma poderosíssima que, paulatinamente, vai destruindo as
pessoas vítimas de quem erra com a intenção do “mal pelo mal”.
Ter a consciência plena de que se está a errar, e
que deste erro resultam prejuízos graves, irreversíveis que, no limite, até
podem conduzir à morte física e/ou mental da/s vítima/s, revela, claramente, a
formação da pessoa que, reiteradamente, comete tal erro, uma organização
interior que poderá tocar os limites de uma patologia que deverá ser convenientemente
tratada.
Em pleno século XXI, em sociedades com uma
civilização alegadamente humanista, não se vislumbram, por enquanto, melhorias
significativas, nesta estratégia sibilina de provocar dor, sofrimento e
desgosto, precisamente, e quase sempre, em pessoas boas que, frequentemente,
fazem o bem, sem exigir nada de material em troca, apenas aspirando,
legitimamente, alguma reciprocidade, sob a forma de consideração, estima e
amizade, por esse bem praticado. Como é possível que ainda existam pessoas tão insensíveis,
tão “superiores”?
O relacionamento humano entre as pessoas poderia
ser tão diferente, obviamente, para muito melhor, se todos tivéssemos um pouco
mais de consideração, de estima, de carinho, uns pelos outros! Como o
sofrimento e o desgosto poderiam ser atenuados, ou mesmo eliminados, se
soubéssemos repartir um pouco mais os nossos bons valores, sentimentos e
afetos! Como seriamos felizes se evitássemos o erro, e/ou então, não o
cometêssemos, com o objetivo de humilhar, vingar, perseguir, odiar, fazer
sofrer o nosso semelhante!
Com boa-vontade e generosidade compreenda-se o erro
involuntário, não desejado e desde que sejam, rápida e eficazmente, reparados
os seus prejuízos, pelo menos os materiais, já que no que respeita a danos
morais, éticos, psicológicos e até físicos, estes são de difícil indemnização,
porque há marcas que ficam para o resto da vida e, algumas delas, até se
projetam na família, por vezes, ao longo de várias gerações, constituindo como
que um estigma maldito.
Utiliza-se, frequentemente, o argumento: “errar é
humano” e, em contraciclo, também se riposta: “as desculpas (por erros
cometidos) não se pedem, evitam-se”. São frases que servem: ou para nos
autojustificarmos; ou para chamar a atenção de que não devemos errar,
respetivamente. Claro que se compreendem estas posições, mas na verdade a
solução está em não errar, e se por qualquer motivo o erro surge, por nossa
culpa, então é inevitável que assumamos a responsabilidade e retifiquemos,
rapidamente, a nossa atitude.
A falta de consideração, de estima, de respeito, ou
até de carinho para com as pessoas, das quais temos recebido atitudes
simpáticas e destas sentimos, os seus efeitos benéficos, bem como a prática
reiterada de atos bons, constitui um erro que, realmente, magoa, faz sofrer
intensamente e provoca um profundo desgosto em quem não se sente valorizado
pelos seus atos bons.
Por outro lado, aquelas atitudes e ausência de
sentimentos nobres, por parte de quem não os quer ter, e revela isso mesmo no
seu dia-a-dia, conduz, também, à indiferença, ao afastamento, à rejeição que,
por sua vez, agrava ainda mais a dor, o sofrimento e o desgosto de quem é
atingido por estes comportamentos injustificados e, eventualmente,
premeditados.
Poder-se-iam colocar algumas questões, como por
exemplo: vale a pena fazer bem? A quem se deve fazer bem? E o erro,
premeditado, com o objetivo de prejudicar o nosso semelhante, será que vai
perdurar para sempre? Não haverá um processo que possa eliminar, ou pelo menos
tentar evitar o erro premeditado? Valerá a pena retribuir o bem recebido, com a
desconsideração, a indiferença e a rejeição? Teremos de ser insensíveis,
exclusivamente, racionalistas, técnicos, cientistas, para nos afirmarmos no
seio da sociedade?
Sejam quais forem as respostas, é bom acreditar no
bem e praticá-lo, os atos bons, a manifestação permanente e reiterada de
atitudes de consideração, estima e reciprocidade, conjuntamente com sentimentos
de afeição e carinho, tudo envolvido nos valores da solidariedade, da amizade,
da lealdade, da compreensão e da entrega, sem reservas, a quem nos quer e nos
faz bem. Este é que parece ser o rumo certo, honesto, humilde e pleno de
gratidão.
Este poderá ser o caminho que conduz ao melhor
relacionamento interpessoal, ao sucesso, à paz e à felicidade que, sem qualquer
dúvida, a maioria das pessoas deseja. Não poderá haver outra estratégia se
queremos conviver com dignidade, com a superioridade civilizacional que tanto
merecemos. Evitemos, então, o erro, especialmente, o erro premeditado e
conciliemo-nos para o BEM.
Tal como acabou de afirmar Sua Santidade o Papa
Francisco: “Não tenhamos medo à bondade,
à generosidade, ao amor, à gratidão”. Acrescentaria para sermos solidários,
vivermos na amizade, com lealdade e agradecimento, essencialmente para com
todas as pessoas que connosco têm idêntico comportamento e, quanto às
restantes, tenhamos a coragem de compreender os seus erros. A ingratidão para
com as pessoas que nos fazem bem, pode revelar arrogância, desdém, indiferença
e tentativa de falsas superioridades.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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