Educar, ensinar, formar, instruir, preparar para a
vida e até para a morte biológica, constituem ações interdependentes, que
integram um projeto grandioso, a aplicar numa sociedade civilizada, cada vez
mais globalizada, para determinados fins, com uns atores bem escolhidos e,
também, outros cada vez mais excluídos, em certas faixas sociais e etárias, do
acesso aos bens e valores essenciais, à dignidade da condição da pessoa humana.
Será, portanto, muito difícil, senão mesmo
inexequível, eliminar a nobre função do professor, formador, docente, tutor,
conselheiro, companheiro e cúmplice pedagógico, do sistema educativo, quaisquer
que sejam as suas modalidades: direta, presencial, emocional, afetiva e
espiritual ou à distância, com as vantagens práticas de todo o potencial da
tecnologia, ao serviço da educação/formação.
Afigura-se, portanto, difícil imaginar a sociedade
sem a intervenção do professor/formador, educador/instrutor, tutor/construtor
de pessoas integrais. Quem prepara o juiz, o advogado, o médico, o arquiteto, o
engenheiro, o padre, o cientista, o técnico e o próprio professor, senão, esse
mesmo professor/formador/educador?
Recuando-se no tempo, verifica-se, sem grandes
dúvidas que, desde a antiguidade clássica grega, a figura do
preceptor/professor, ao domicílio, era fundamental para a preparação de alguns
cidadãos que, mais tarde, iriam administrar a polis, realizar a justiça,
exercer a política, construir as estradas e as pontes, erguer magníficos
monumentos e navegar pelo mundo.
Excluindo-se, eventualmente, algumas poucas
profissões, a esmagadora maioria aprende-se na teoria e nas boas-práticas, na e
com a escola, sob a orientação do professor/formador, observando programas,
conteúdos, planeamento, avaliações e certificações.
No centro do sistema, o binómio nuclear persiste:
educador/educando; professor/aluno; formador/formando: «A relação professor-aluno como vínculo libertador é bilateral, uma
troca, uma reciprocidade, e, de certo modo, apresenta-se como um círculo
vicioso: o aluno precisa receber confiança do professor para adquirir
autoconfiança e poder realimentar a confiança do professor em si mesmo e em
seus alunos; o aluno precisa receber aceitação e apoio do professor para
sentir-se seguro e retribuir com alegria o trabalho do professor.» (PONTES,
1995:126).
A profissão docente, numa sociedade que se pretende
culturalmente desenvolvida, em permanente progresso científico, técnico,
económico e cultural, é insubstituível, independentemente do estatuto, das remunerações
e reconhecimento que se lhe atribua, porque a humildade docente nem sequer é
compatível com quaisquer honrarias e privilégios, apenas se exige à sociedade
que apoie, estimule e dignifique este docente, que prepara crianças, jovens e
adultos para o mundo e para a vida profissional de cada pessoa, individualmente
considerada.
Todas as profissões se iniciam na vida de cada um,
o mais cedo possível, revelando-se, de princípio, algumas dificuldades,
justamente, pela ainda falta de experiência, pouca maturidade, muitas e bem
elaboradas teorias, memorizadas durante a formação teórico-científica e, só
mais tarde, é que o docente pode acrescentar a dimensão concreta de uma vida
vivida, mais ou menos intensamente, que completa e enriquece a formação inicial.
Com este raciocínio se poderá defender o
prolongamento da atividade docente, para além da idade de reforma oficial,
direcionando todos aqueles que assim o desejarem, precisamente, na formação dos
jovens e futuros professores o que, por sua vez, implica que este professor, já
bem maduro, experiente, detentor de conhecimentos e práticas que, tendo sido
importantes, num determinado contexto e época, requerem, contudo, atualização.
O essencial é incentivar o professor veterano
(jubilado) a prosseguir na investigação, e na elaboração de novas estratégias,
diferentes metodologias e, porventura, avaliações mais ponderadas e justas, bem
como aumentar a sua própria autoconfiança e correspondente auto-estima.
Na verdade: «Se
você não confiar em si mesmo, não espere que os outros tomem a iniciativa. Mas
para poder desenvolver essa confiança é preciso estar preparado. Preparação
significa conjugação de duas coisas: a teoria e a prática; fundamentação
teórica e a capacidade de aplicação dessas teorias. Nesse ponto o professor
joga com armas muito favoráveis porque geralmente os dirigentes não são fortes
em teorias educacionais, costumam ser fortes em administração.» (WERNECK,
1996:18).
Quando num país, pelas decisões
político-administrativas, de alguns dirigentes, ainda que democrática e
legitimamente eleitos, e/ou nomeados para os respetivos cargos, se afastam os
profissionais das suas atividades, impedindo-os, ou colocando-lhes obstáculos
para continuarem no exercício da respetiva profissão, tal país está a regredir,
e os dirigentes responsáveis por decisões desta natureza, provavelmente,
estarão a pensar em muitas coisas, menos na rentabilização dos seus recursos
humanos, e muito menos no progresso sustentado da sociedade.
É um pouco como começar tudo de novo, com novas
gerações, apagando todo um passado das gerações precedentes, eliminando os
resultados de longas e profícuas investigações, utilização de boas-práticas já
demonstradas e, pior do que tudo isto, desconsiderando aqueles que, ao longo de
40 ou 50 anos, deram o seu melhor a esse mesmo país, e à sociedade em que todos
se pretendem integrados e incluídos, em qualquer das suas dimensões e
capacidades.
Afastar, excluir, desvalorizar conhecimentos,
experiências, princípios, valores, sentimentos e atitudes dos profissionais
docentes mais experientes, é esbanjar um património cultural, científico e
técnico, construído na experiência de uma longa vida docente. É, no limite,
delapidar o investimento financeiro que neles foi efetuado para a sua formação,
afinal, corresponde, ao desbaratar o erário público que pertence a todos.
A atualização não se efetiva apenas em relação ao
mais recente, ao que é inovador, ao que foi descoberto num outro continente,
sendo, indiscutivelmente, fundamental para o avanço do progresso das sociedades,
para melhor se perspetivar o futuro, mas este também se vai construindo a
partir de um presente, que conhece muito bem o passado.
Em princípio, deve partir-se do conhecido, do
adquirido, do consolidado e com prova dadas, para o desconhecido, para a
verificação de novas teorias. Então, toda a atualização pressupõe a organização
sistematizada do passado, deste aproveitando e melhorando o que tem de positivo
e evitando o que constitui insucesso e é superficial.
O professor poderá ser o exemplo de como se entende
o conceito de atualização, principalmente quando já possui idade, experiência,
prudência e sabedoria consolidadas. A atualização é muito mais do que o
presente, ou uma perspetiva planificada do futuro: «Parece que a actualização é coisa que só diz respeito à fase actual da
nossa vida. Mesmo não lembrada em muitas ocasiões, faz parte integrante de toda
a vida humana. (…). Só a actualização através da educação, faz com que possamos
usar os produtos novos.» (Ibid:30).
Bibliografia
PONTES, Eglê Franchi,
(Org.), (1995). A Causa dos Professores,
Campinas: Papirus, (Colecção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
WERNECK, Hamilton, (1996). Como vencer na vida sendo Professor”,
Petrópolis-RJ: Vozes.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Jornal: “Terra e
Mar”
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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