Do nascimento à morte, a vida do ser humano
desenvolve-se em função de ciclos biológico-mentais, relativamente bem
estudados, ao nível das diversas ciências que se ocupam das várias parcelas, e
especialidades da realidade humana.
Na verdade, enquanto crianças, ocorrem determinadas
situações que implicam correções, compatíveis com uma determinada cultura e
respetiva socialização, para que se adquiram os hábitos e pratiquem as ações
adequadas, através dos procedimentos que se vão interiorizando, com forte
incidência na construção da personalidade, no sentido de melhor adequação às
regras, deveres e direitos, em vigor na sociedade.
É fundamental, para o futuro da criança, que desde
bem cedo, ela possa adquirir uma personalidade equilibrada, embora em
permanente, dinâmica e por vezes dramática construção, para que o seu
crescimento, e enquadramento na sociedade se processem sem grandes conflitos: «A personalidade está indubitavelmente
relacionada com o desenrolar e o desfecho das nossas vidas. Com a escolha da
nossa carreira, dos nossos relacionamentos e com a forma como nos sentimos em
relação a nós próprios e aos outros (…)» (LIMA e ALBUQUERQUE, 2006:246).
E, continuando:
«Assim, se por exemplo, na adolescência a identificação deixa de estar
primariamente centrada nas introjecções parentais para se abrir a padrões
culturais e ideológicos mais alargados, na meia-idade os investimentos
generativos e a participação activa na cultura são cada vez maiores. Na última
fase da nossa vida, os idosos mais integrados e sábios identificam-se com os
padrões duradouros que definem a nossa humanidade.» (Ibid.)
Implementado todo o processo de socialização da
pessoa humana, o período correspondente à primeira fase de preparação para a
vida adulta, ativa e produtiva, prolongar-se-á até ao fim do primeiro terço de
vida, ou seja, por volta dos vinte e cinco a trinta anos, considerando-se
concluída a formação superior, especializada num determinado domínio do
conhecimento técnico-científico.
O jovem terá adquirido, precisamente, à custa do
contributo financeiro dos mais velhos, na maioria das situações, uma formação
para poder participar na construção de uma sociedade mais justa, solidária e
rica, mas também, na sua própria autonomia económico-social, profissional e
progressão do seu bem-estar.
Seria correto, e da mais elementar justiça, que o
indivíduo, assim formado para a vida e para a sua própria independência, se
colocasse ao serviço da comunidade em geral, daqueles que contribuíram para a
sua preparação técnica superior, por um determinado período de tempo, num
regime de voluntariado, do tipo de serviços prestados à comunidade, em vez de,
em muitas situações, iniciar, de imediato, a exploração daqueles a quem em
parte deve a sua formação, ou então, com outras perspectivas, abandonar o país
que lhe deu a formação e fixar-se no estrangeiro, preparado para a vida, embora
à custa do sacrifício dos contribuintes seus concidadãos.
Infelizmente, o que se tem vindo a verificar (2013-2014-2015)
é que os nossos jovens, mais qualificados, foram mesmo obrigados a emigrar, inclusive,
incentivados por altos responsáveis governamentais, a levar o melhor que
possuíam: juventude, generosidade, dinamismo, conhecimentos e elevados níveis
intelectuais, que vão colocar ao serviço de outros povos. Trata-se, sem dúvida
alguma, de uma deficiente gestão dos nossos melhores recursos humanos, ainda
que tal situação possa ser “prestigiante” para Portugal.
Igualmente, e a exemplo do que é investido na
educação e formação dos jovens e adultos, também se poderia canalizar verbas
suficientes, justamente, para assegurar uma velhice condigna àqueles que
trabalharam e descontaram durante décadas das suas vidas, tantas vezes com
imensas dificuldades e privações de vária ordem; ora, se a política social não
for, igualmente, neste último sentido, os jovens de hoje, recém-formados, têm
um dever moral, ético e de solidariedade para com os mais idosos.
Desenvolvida toda uma carreira profissional, seja
qual for a atividade e/ou profissão, durante um período obrigatório, e
relativamente longo, cerca de metade da vida, que de acordo com as novas
perspectivas de longevidade, poderá corresponder a um tempo produtivo, e de
comparticipação fiscal-social, eventualmente superior a quarenta anos, segue-se
uma nova fase, denominada de reforma/aposentação, e ao consequente afastamento
da atividade profissional que exerceu durante aquela longa época.
A pessoa humana, assim desligada, abruptamente, de
todo um conjunto de tarefas, rotinas, responsabilidades, poder, estatuto socioprofissional
e de intervenção na sociedade, corre sérios riscos de invalidez permanente e/ou
morte prematura que, naturalmente, provoca sofrimento e/ou o luto, respetivamente,
com eventuais consequências nocivas para todos aqueles que, de alguma forma,
dependiam do recém-reformado.
Nem valerá a pena invocar, até por uma questão de
alegado preconceito economicista, os encargos que uma pessoa inválida acarreta
para ela própria, para a família e para a sociedade, esta e nesta circunstância,
representada pelo Estado, através dos respetivos departamentos competentes.
A política correta será o inverso, isto é, manter
as pessoas ativas, dando-lhes condições de ocupação condigna, poder de compra
para continuarem a ajudar os familiares, a consumirem os artigos produzidos
pelas nossas empresas. A questão é, portanto, mais profunda e humana, e assim
deve ser analisada e solucionada. Ao recém-aposentado devem ser-lhe dadas novas
e específicas oportunidades para se manter ativo, produtivo e contribuinte.
Ele continua a ser uma pessoa de deveres e direitos,
com dignidade, jamais um simples número que integra uma qualquer estatística
relacionada com a população idosa, inativa e dispendiosa, como muitos
responsáveis insinuam pelas práticas que assumem, pelas leis que elaboram, pela
marginalização a que remetem centenas de milhares de idosos, só em Portugal,
cerca de dois milhões.
O que tem vindo a acontecer em Portugal é algo de
inimaginável. Retirar direitos adquiridos, para os quais se contribuiu uma vida
inteira, precisamente quando tais direitos são mais necessários para a
manutenção da saúde, da alimentação razoável, do conforto habitacional, do
lazer apropriado e da dignidade humana, revela bem até onde vai a insensibilidade
social, e humanitária, de alguns governantes que, eleitos de boa-fé pelos seus concidadãos,
a partir de projetos eleitorais, depois não cumpridos, se sentem traídos,
humilhados e como que atirados para o “lixo
da exclusão social etária”. Haja humildade, bom-senso e respeito pelos mais
velhos.
Bibliografia
LIMA, Margarida Pedroso e ALBUQUERQUE, Isabel. (2006).
“Personalidade na Idade Adulta: O Contributo dos Projectos Pessoais”, in: Psicologia, Educação e Cultura.
Carvalhos: Colégio Internato dos Carvalhos. Vol. X (2). Dezembro. Pp. 245-266
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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