Habitualmente, é nos eventos anuais mais simbólicos que surgem as preocupações quanto ao estado do mundo e da humanidade e, nesse sentido, há como que uma “verbosidade” ensurdecedora, que apela a determinados princípios e valores, invocando-se os dias universais a propósito dos mais variados assuntos: uns, de natureza axiológica; outros, com um perfil romântico; outros, ainda, enaltecendo feitos, mais ou menos heroicos, podendo-se afirmar que teríamos trezentos e sessenta e cinco dias universais, para as respetivas comemorações, todavia, rapidamente passa o entusiasmo dos festejos, e tudo volta à mesma situação.
É necessário colocar de lado muitos interesses
que, não obstante serem legítimos, justos e legais, quando se conseguem
concretizar, ainda assim, podem prejudicar os nossos semelhantes porque: «O homem e a mulher deste mundo pós-moderno
correm o risco permanente de se tornarem profundamente individualistas, e
muitos problemas sociais de hoje estão relacionados com a busca egoísta de uma
satisfação imediata, com as crises dos laços familiares e sociais, com as
dificuldades em reconhecer o outro. Muitas vezes há um consumo excessivo e
míope dos pais que prejudica os próprios filhos que sentem cada vez mais
dificuldade em comprar casa própria e fundar uma família. (…) Não percamos tempo a imaginar os pobres do
futuro, é suficiente que recordemos os pobres de hoje, que poucos anos têm para
viver nesta terra e não podem continuar a esperar.» PAPA FRANCISCO,
2016:66-67).
É verdade que grandes franjas das comunidades:
científica, tecnológica, política, religiosa, empresarial, organizações
internacionais, entre outras, têm feito grandes esforços, para erradicar certos
males, que afetam a humanidade e, a estas entidades deveremos manifestar a
nossa sincera e duradoura gratidão, porque, apesar de ainda uma significativa
mancha de miséria existir no mundo, muitas outras situações foram resolvidas.
O problema é que, por vezes, bastam algumas
minorias, ou até reduzidas células humanas de meia dúzia, ou menos, de pessoas,
para provocarem o pânico, a destruição, o sofrimento e a morte, como é a
aparente insanável chaga do terrorismo, a par de conflitos armados, sem
sentido, submetendo tudo e todos, à sua desenfreada desumanidade.
Neste primeiro quarto do século XXI, parece que o
balanço do bem-comum, e do bem-estar individual, não são assim tão animadores,
pese, embora, e favoravelmente, as muitas entidades e tentativas que, um pouco
por todo o mundo, em especial nos países democráticos, e nas organizações
internacionais de defesa dos Direitos Humanos e da Paz, se vem fazendo para se
alcançar um mínimo de estabilidade, segurança e esperança.
É essencial que: cada pessoa, família, grupo,
instituições, governos e a comunidade internacional deem o seu contributo,
utilizando, para o efeito, os recursos que estão ao seu dispor, seja através das redes sociais, da
intervenção direta no terreno, da reflexão e publicação de artigos, livros,
ensaios que se debrucem sobre estas temáticas, nomeadamente: Direitos Humanos,
Paz, Educação-Formação, Saúde, Trabalho, Solidariedade, Justiça, entre outros
valores e sentimentos, específicos da pessoa humana, pelo menos tanto quanto a
ciência, por enquanto, nos dá a conhecer.
É relativamente difícil para algumas pessoas, e
organizações, interiorizarem e aplicarem determinados valores
humano-civilizacionais e democráticos, dos quais se destacam a Solidariedade,
porque em bom rigor, pensa-se que: «A
solidariedade, que é o tesouro dos pobres, acaba muitas vezes por ser
considerada contraproducente, contrária à racionalidade financeira e económica.
Enquanto os rendimentos de uma minoria crescerem de maneira exponencial, os da
maioria vão-se exaurindo. Este desequilíbrio deriva de ideologias que promovem
a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira, negando assim o
direito de controle aos Estados, que têm precisamente a responsabilidade de
promover o bem-comum. Instaura-se uma nova tirania, invisível e às vezes
virtual, que impõe, unilateralmente e sem recurso possível, as suas leis e
regras.» (Ibid.:71-72).
A sociedade humana atravessa, entre outras, uma
grave crise, resultante do consumismo, da ostentação e do desperdício. Os
mercados e o dinheiro sobrepõem-se a todos os valores ético-morais, aos sentimentos
mais nobres, às regras e princípios mais elementares, que deveriam coordenar as
relações verdadeiras e totalmente sinceras.
Corre-se atrás de “Deus e do Diabo”, para se alcançarem objetivos materiais, para se
satisfazerem caprichos, para se atingirem níveis de vaidades, estatutos
comprados a troco, por vezes, de influências e muito dinheiro, ao ponto de, à
falta de capacidade intelectual e psíquica, se adquirirem habilitações
literárias e títulos académicos superiores,
porque assim se conseguem outros cargos, designadamente, em certos contextos
sociopolíticos, que, afinal, até são pagos com o esforço da maioria dos
contribuintes, através de brutais, injustos e, eventualmente, inconstitucionais
impostos.
O que importa, nesta cultura de vaidades balofas,
é: atingir posições sociais de poder, de domínio, de influência sobre as
maiorias; exibições de gente cínica, que, rapidamente, esquece que tiveram de
ser ajudadas, precisamente, por aquele povo anónimo, por amigos, familiares,
compadrios e outros intervenientes neste processo de bajulações, hipocrisias e
ingratidões. Aproveitam-se certas crises para submeter os mais fracos, os
desprotegidos da sorte, da vida, da família e dos amigos, se é que estes alguma
vez o foram, autenticamente.
Os princípios, valores e sentimentos humanos, para
algumas pessoas, são “coisas”, que
rapidamente se ignoram, se espezinham, em benefício de interesses de certas
minorias, de determinadas pessoas com caráter extravagante, que se servem de
tudo e de todos, até obterem a satisfação do seu egoísmo desmesurado, por isso,
a dificuldade em se atingir o bem-comum, a paz e a felicidade.
Hoje, primeiro quarto do século XXI, tudo gira à
vota da economia, dos sistemas financeiros, dos grandes grupos multinacionais,
de alguns banqueiros preponderantes, podendo-se admitir que: «A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, parece
evidenciar as suas deformações e, sobretudo, a sua grave carência de perspetiva
antropológica, que reduz o homem a uma única das suas exigências: o consumo.
Pior ainda, hoje o próprio ser humano é visto como um bem de consumo, que se
pode usar e deitar fora. Começamos esta cultura do desperdício.»
(Ibid.:71).
Impõe-se, urgentemente, reforçar todos os
mecanismos que conduzam ao restabelecimento da dignidade da pessoa humana,
porque não há, não pode haver, indivíduos de primeira, de segunda e de terceira
categorias. À face da Lei do Criador, do Direito Consuetudinário e do Direito
Positivo Constitucional e da diversa legislação avulsa, em vigor nos países democráticos,
todos nascem livres e iguais, muito embora se compreenda que ao longo da
existência, nem todos se esforçam, com a mesma determinação e competência, para
beneficiarem de uma vida cada vez melhor.
É evidente que em muitas e louváveis situações, o
mérito individual, de grupos, ou nacional tem imensa influência, não se podendo
tratar por igual o que é desigual, como não seria justa uma distribuição
equitativa da riqueza produzida, mais por uns, menos por outros e nada por
alguns. Todos devem contribuir para o bem-comum, cada um com as suas
disponibilidades, conhecimentos, competências e cultura.
Obviamente que é justo reconhecer, e dar o mérito
a quem o tem. Neste sentido: quem investe, criando riqueza, postos de trabalho,
segurança económica e financeira; quem corre riscos e coloca em perigo os seus
próprios bens e da família, certamente terá direito à nossa admiração, respeito
e estima.
Não se pode ignorar que: «A atividade empresarial, que é uma inovação orientada para produzir
riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de
promover a região onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que
a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem
comum.» (Ibid.:78).
Neste breve trabalho, pretendeu-se chegar, na
medida do possível, ao fundo de algumas realidades, por muito dolorosas que se
afigurem. Entre um otimismo infundado e um pessimismo radical, é preferível uma
análise pragmática, mesmo contendo algumas abordagens, aparentemente, muito
subjetivas e adjetivadas, porque entre o bem e o mal, é preferível procurar-se
o meio termo, com bom senso e moderação, do que se cair em extremos e/ou
excessos.
Se o ceticismo não é o melhor conselheiro, também
a excessiva autoconfiança não se considera que possa conduzir sempre aos
melhores resultados e, também aqui, se defende, sim, a confiança, a esperança e
a participação ativa na vida da comunidade, para se alcançarem resultados
sólidos e permanentes.
Sonhar é necessário, mas viver de ilusões, de falsas
realidades, de aparências que não correspondem à verdade, será um caminho a
evitar. Sejamos, portanto, otimistas, mas pragmáticos.
Certamente que não é necessário abandonar o
espírito da célebre frase: “O homem
sonha, Deus cria e a obra nasce”, porque se cada um fizer a sua parte, algo
de novo e diferente pode surgir na vida de cada pessoa.
Bibliografia.
PAPA
FRANCISCO (2016). Proteger a Criação. Reflexões sobre o Estado do Mundo. 1ª
Edição. Tradução Libreria Editrice Vaticana (texto) e Maria do Rosário de
Castro Pernas (Introdução e Cronologia), Amadora-Portugal:20/20 Nascente
Editora.
“NÃO,
ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=924397914665568&id=462386200866744
Venade/Caminha – Portugal, 2024
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras
e Artes de Portugal
http://nalap.org/Directoria.aspx
http://diamantinobartolo.blogspot.com
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