Contemporaneamente, a
imposição da violência, como linha de orientação da natureza e da evolução
humana, esgotou-se também como proposta científica ou processo eficaz para
estabelecer uma sociedade mais justa, de resto, sobejamente comprovado na vida
daqueles que defendem o primado da violência, e em que se verifica o aumento da
criminalidade, o ato gratuito, a solidão, a insuficiência da realização humana,
a indiferença à solidariedade social, enfim, o terrorismo institucionalizado
internacionalmente, destruindo tudo, inclusive, matando inocentes.
A violência tornou-se,
hoje, segunda década do século XXI, uma mera praxis, constituindo, igualmente,
uma ideologia de argumentação finalista, visando justificar formas de
manipulação e de coação, assim como tornar legítimas a resistência ou a
supressão de classes sociais malquistas: a ideologia como
distorção-dissimulação.
«Marx serviu-se da
metáfora do inverso da imagem num quarto escuro, ponto de partida da
fotografia, para atribuir a primeira função consignada à ideologia, no sentido
de produzir uma imagem inversa à realidade. É o laço que Marx estabelece, entre
as representações e a realidade da vida, que ele chama praxis.
Passa-se, assim, do
sentido restrito ao sentido geral da palavra ideologia. Segundo este sentido
há: primeiramente, uma vida real dos homens, é a sua praxis; depois, há um
reflexo desta vida na sua imaginação, é a ideologia. A ideologia torna-se,
portanto, o procedimento geral pelo qual o “processus” da vida real, a praxis,
é falsificado pela representação imaginária que os homens fazem disso.». (Cf.
RICOEUR, s.d.:380).
O sinal da grande mudança
do pensamento contemporâneo poderá ser encontrado neste debate universal sobre
a ideologia, designadamente, quanto ao papel que ela desempenha nos atos de
violência, porque não se pode ignorar a ocorrência desta e o seu abuso.
O homem, ser consciente e
responsável, racionalizador e observador, voltado para a sua sobrevivência,
cria regras eficazes e pondera-as. A violência terá, inevitavelmente, de entrar
na sua ponderação, assim como a moral geral, a existência de valores, a sua
capacidade técnica e tantas outras dimensões. Todavia, só a convergência
alcançada pelo amor é que poderá dar sentido à sua obra.
Numa sociedade cada vez
mais policiada e previdente, quanto à segurança física, a violência toma formas
que, muitas vezes, nada tem de físico, pelo contrário, são puros atos
agressivos para alterar a situação do “outro” por meios mediatos, para
beneficiar quem os usa.
A supressão da liberdade
das oportunidades, a corrupção da mobilidade social e da promoção, o
escamoteamento das regras comuns, o branqueamento da memória coletiva, a
manipulação da notícia, o convite vergonhoso à imoralidade, a prática
dissimulada do assédio sexual, a alteração dos direitos adquiridos e
justificados e tantas outras violações da convivência legítima e harmoniosa,
são atos de violência cada vez mais frequentes nas sociedades contemporâneas.
A luta contra este rol de
violências, exige imaginação, lucidez e coragem por parte dos responsáveis pela
ordem e disciplina da sociedade e das instituições, no sentido de tornar eficaz
a incompatibilidade entre a violência e os Direitos Humanos, porque nestes é
que reside a radical dignidade humana, pelo que o combate contra a violência
tem de partir da defesa da pessoa humana, e da exaltação dos mais caros
valores, entre estes, o do conceito que o homem faz do próximo e,
inerentemente, de si próprio, numa exigência de dignidade superior, que lhe
assiste e o distingue no mundo, isto é: “o outro
que poderia ser eu próprio e vice-versa”.
Para que o homem
contemporâneo, cada vez se prepare melhor para lutar contra as mais
sofisticadas violências, é necessário e imperioso que os responsáveis
governamentais se sensibilizem para as questões da educação geral da população,
nomeadamente: a educação cívica, ética e axiológica, porque o ato educativo é
um facto de ordem social e cultural.
Como facto de ordem
social e cultural, a educação apresenta-se sempre em correlação com o
desenvolvimento da civilização, aliás, já nas sociedades primitivas, a
atividade educativa estava intimamente ligada a outras manifestações da vida
coletiva, tais como o culto religioso, a aprendizagem de técnicas rudimentares,
o mesmo se verificando, seguramente, nas sociedades mais desenvolvidas:
Esparta, Atenas, Roma, são disso o exemplo mais clássico.
A Escola deve estar
adaptada à sociedade e nesta visar a sua integração. Num mundo em incessante
transformação, como é o mundo conhecido e o mundo construído pelo homem, a
Escola tem de ser, não só o reflexo, mas também e sobretudo, o projeto da
sociedade e, sendo certo que a Escola deve ser feita para a sociedade, também é
verdade que a sociedade deve ser constantemente renovada pela Escola.
Não pode haver paz,
segurança, progresso e bem-estar se não houver na população um elevado nível
educacional e cultural, porque só assim as pessoas poderão distinguir entre a
realidade e a ideologia, entre a verdade e a aparência.
Bibliografia
RICOEUR, Paul, (S.d.). Hermeneutique et Critique dês
Ideologies – L’Ideologie et l’Utopie, s.l., s. Ed.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
1 comentário:
O AUTOR SINTETIZA MUITO BEM O GRANDE PROBLEMA HUMANO, E LHE SOLUCIONA, SOBERBAMENTE, AO SEU FINAL, QUANDO PROCLAMA:
"NÃO PODE HAVER PAZ, SEGURANÇA, PROGRESSO E BEM-ESTAR SE NÃO HOUVER NA POPULAÇÃO UM ELEVADO NÍVEL EDUCACIONAL E CULTURAL, PORQUE SÓ ASSIM AS PESSOAS PODERÃO DISTINGUIR ENTRE A REALIDADE E A IDEOLOGIA, ENTRE A VERDADE E A APARÊNCIA".
ÓBVIO ESTÁ, POIS, QUE EM SEU ELEVADO NÍVEL EDUCACIONAL, ENTRA O CONHECIMENTO INTEGRAL DO SER, COMO MATÉRIA E COMO CONSCIÊNCIA IMORTAL, SUJEITA A PROCESSOS PALINGENÉSICOS E EVOLUTIVOS, ONDE O HOMEM COLHE O QUE PLANTOU OUTRORA E COLHERÁ DE FUTURO O PLANTIO DE AGORA.
REPISO QUE A SOLUÇÃO PARA TODOS OS PROBLEMAS HUMANOS ESTÃO NAS REGRAS EDUCACIONAIS DO CRISTIANISMO, MOSTRANDO AS CONSEQUÊNCIAS DE NOSSOS PRÓPRIOS ATOS, QUE, CERTAMENTE, ESTARÃO DE RETORNO A NÓS MESMOS, INEVITAVELMENTE.
JESUS É O GRANDE INSTRUTOR DAS ALMAS, E ENQUANTO O IGNORARMOS SOFREREMOS AS CONSEQUÊNCIAS DE NOSSA ESTUPIDEZ PELAS DURAS REAÇÕES DA LEI: QUE NOS CORRIGE E NOS ENDIREITA MALGRADO NOSSO ORGULHO, EGOISMO E VAIDADE.
GRANDE ABRAÇO A TODOS:
Fernando Rosemberg Patrocinio
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